Pinto da Costa assume a presidência do FC Porto em 1982 e elege as arbitragens como uma das suas guerras, uma vez que considerava que, como em tudo o resto, o poder estava em Lisboa e havia que combatê-lo. Naquele tempo, os árbitros eram nomeados e ele era contra. Queria transparência, ou então um sorteio, seja o que for, tudo menos o que existia na altura.
“É preciso que se diga que este árbitro não tem categoria nenhuma para apitar jogos de futebol. Já está demonstrado, mais uma vez, que é necessário voltar-se ao sorteio dos árbitros, porque está provada também a incapacidade das nomeações.” Record, 7 de Setembro de 1982
“Defendemos há muito tempo que o processo das nomeações dos árbitros tem de ser perfeitamente transparente e não dar lugar a especulações de espécie alguma. Não posso aceitar que um, dois ou três elementos tenham nas suas mãos a possibilidade de decidir arbitrariamente, em segredo – pelo menos para a maior parte – as nomeações.”
“Creio até que em grande parte dos jogos se poderia proceder a nomeações com o consenso geral, mediante a presença dos delegados dos clubes. Se não fosse possível esse consenso, deveria proceder-se a um sorteio com a presença dos delegados" A Bola, 11 de Setembro de 1982
“Tenho estado frontalmente contra o critério das nomeações" Record, 4 de Março de 1983.
Muita coisa acabaria por mudar nos anos seguintes… Pinto da Costa não só vai passar a ser a favor das nomeações, como estas estarão a cargo unicamente de dirigentes que são sócios do FC Porto, e nessa altura não questionará a transparência.
Mais tarde, chegará finalmente o sorteio, mas será contra porque diz ser um “pseudo-sorteio”, e depois voltarão as nomeações e ele concordará plenamente, até porque agora, veio a saber-se mais tarde nas escutas do “Apito Dourado”, Pinto da Costa tinha voz activa nas mesmas, em segredo, com pedidos e sugestões, o que vai custar ao clube uma condenação na justiça desportiva.
O “Apito Dourado” é o maior escândalo do futebol português. Ainda que a justiça civil não tenha acompanhado ao mesmo ritmo as condenações da justiça desportiva, para a história ficaram as célebres escutas, que divertiram e chocaram os portugueses. Um dos apanhados em flagrante, como se sabe, é Pinto da Costa. O país assiste, estupefacto, a alguns pormenores da arbitragem portuguesa. Ainda que a justiça civil tenha ilibado o dirigente, ficará sempre a certeza do poder de influência que Pinto da Costa tinha sobre os árbitros e sobre quem os nomeava. As escutas revelam isso mesmo, e revelam também que estranhos eram os caminhos do homem que dirigia o FC Porto.
Em Março de 2003, os jornais são convidados a assistir à cerimónia de entrega das insígnias a um novo árbitro muito especial, a própria filha de Pinto da Costa, muito entusiasmada com o curso que acabara de completar. Com a imprensa presente, sob o olhar do pai, Joana assina a Compromisso de Honra.
“Declaro que servirei com fidelidade a Causa Desportiva, obedecendo aos meus dirigentes, observando os seus conselhos e ordens. Serei fiel aos princípios da honra, cumprindo zelosamente o meu dever de Árbitro quando me for confiada a direcção de um jogo, honrando assim a tradição desportiva, com lealdade, correcção e imparcialidade na aplicação das leis.”
Porto, 12 de Março de 2003 – O árbitro, Joana Pinto da Costa
Pinto da Costa dá-lhe um beijo e diz à imprensa que se sente “um pai orgulhoso”. Ao lado está Pinto de Sousa, que até oferece à petiza o seu primeiro equipamento. Por esta altura já estão os dois a ser escutados.
Exclusivo: As Manobras Secretas de Pinto da Costa - 17-11-2010 - Sábado Online