"Ninguém o pode provar mas foi combinado - Vieira seria empurrado para presidente com a garantia de que ajudava Vilarinho a desbloquear a questão com o BES."
25 de Junho de 2009 - ionline
José Sócrates foi o primeiro a votar nas eleições mais importantes da história do Benfica, em 2000, quando Manuel Vilarinho derrubou Vale e Azevedo para se tornar o 32.º presidente do clube. O então ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território era sócio há um ano e não podia ficar fora da maior corrida às urnas de sempre no Estádio da Luz (21 804 votantes) naquele momento de apoio ou combate ao populismo glorioso de Vale Azevedo - ganhou Vilarinho, o presidente da mudança, o que lançou Luís Filipe Vieira, o que agora ficou fora da lista de recandidatura do presidente demissionário.

Manuel Vilarinho, por mais uns dias líder da assembleia-geral, aceitou a demissão dos órgãos sociais e as eleições antecipadas. Depois, chegou a dizer que estava à espera de um contacto de Vieira. Não tinha nenhuma razão para achar que não faria parte da nova lista que provavelmente ganhará as eleições de 3 de Julho. Mas o dirigente - que fez parte das direcções de João Santos e Manuel Damásio - foi substituído por Luís Nazaré e deixará o Benfica assim que oficializar a posse da nova direcção. Esquecimento de Luís Filipe Vieira? "Estou convencido de que saiu pelo próprio pé. Se assim não foi, então trata-se de uma grande desconsideração", disse ao i Tinoco de Faria.

Amigos, colegas de curso, dirigentes do Benfica em simultâneo (Tinoco foi vice de Vilarinho para a área jurídica; presidiu depois à assembleia-geral (AG) com Vieira; e passou a vice de Vilarinho na AG, até se demitir), telefonam-se frequentemente. Só não falam tanto do Benfica porque têm posições opostas acerca das eleições antecipadas. "Liguei-lhe ontem [terça-feira] porque fazia anos. Os últimos episódios, já lho disse, mancham a forma como sai do Benfica. Penso que nesta última fase comprometeu o capital de simpatia que merece e que os benfiquistas por ele tinham", conta, recordando a luta "heróica" que tiveram no passado. "As pessoas esquecem-se - e o Sr. Luís Filipe Vieira gosta de puxar para si galões que não são dele - mas foi o Manuel Vilarinho que afrontou o Vale e Azevedo e foi à guerra. Ninguém mais."

Toni e Jardel Nesse dia de guerra, ou de eleições, as filas saíam do Estádio da Luz, passavam o Centro Comercial Colombo e acabavam na Avenida Lusíada. 62 por cento para Vilarinho, o candidato que se apresentava com as promessas de Toni (treinador) e Jardel (ainda hoje sonha marcar golos no Benfica), com o apoio dos dinheiros de Vítor Santos, com a herança de um mandato de Vale e Azevedo que o deixava debaixo da asa do fisco e da Segurança Social, ou dependente de várias decisões comprometedoras, como a célebre denúncia do contrato de cedência dos direitos televisivos com a Olivedesportos. "Respondemos a compromissos imediatos, Vilarinho construiu com Vítor Santos, Humberto Pedrosa e José Guilherme uma bolsa financeira de muitos milhões de euros que permitiram responder às necessidades imediatas. Luís Filipe Vieira apareceu depois", diz Tinoco de Faria.

Manuel Vilarinho lançou-se à obra, viu aprovar em AG a decisão de construção do novo estádio (que ainda inaugurou no final do seu mandato, em 2003) e lançou-se no aumento de capital da SAD. Foi então que se acentuou a relação de proximidade com Luís Filipe Vieira. Vilarinho decidiu não se recandidatar em 2003, apoiando Vieira mas precisando ainda de desbloquear o problema em que se tinha metido. Era ele que aparecia como primeiro avalista de uma letra do Banco Espírito Santo, a rondar os 21 milhões de euros, relativa a acções necessárias para consumar um aumento de capital da SAD. "Foi ele que evitou que operação se transformasse num flop. Depois ninguém o ajudou. Teve muitos problemas por causa disso mas acabámos por resolver essa questão com o BES", lembra Tinoco de Faria. Na altura, a vontade de Vilarinho, que entretanto já tinha sido internado com um problema cardíaco, era libertar-se do clube. "Lançou Vieira, que tinha grande vontade e interesse em ser presidente", prossegue Tinoco de Faria. Outra fonte contactada pelo i avança interpretação diferente. "Ninguém o pode provar mais foi combinado - Vieira seria empurrado para presidente com a garantia de que ajudava Vilarinho a desbloquear a questão com o BES." Essa espécie de acordo, de resto, acabou por ser notícia na imprensa, em 2002, no "Independente".

O último mandato Com ou sem relação de dependência, Manuel Vilarinho regressou em 2006 para presidente da assembleia-geral no segundo mandato de Luís Filipe Vieira. Antes disso era figura presente nas AG do clube e da SAD. Uma das mais importantes - única na história do clube - foi aquela em que acabou votada a exclusão do sócio 10 375, Vale e Azevedo. A proposta foi lançada pela direcção de Vieira e acabou aprovada com 65 por cento dos votos.

Nas últimas semanas, após uma ou outra AG marcada pelos protestos das claques, o trabalho de Manuel Vilarinho virou turbulência. Luís Filipe Vieira pediu eleições antecipadas, o líder da AG aceitou-as e entre outras considerações bombásticas foi à TVI dar a entender que a demissão dos órgãos sociais fazia parte da estratégia do actual presidente. "Vilarinho teve muito mérito. Talvez seja injustiçado mas hoje está metido numa camisa de sete varas."