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Pinto da Costa, por Marinho Neves
Começou no FC Porto nos anos 60 como dirigente do andebol, passando depois pelo hóquei em patins e pelo boxe. Nessa altura era um simples gerente de uma empresa de fogões.
Chegaria a chefe do departamento de futebol apenas no final da década de 70, no mandato de Américo de Sá. Tomou o poder e impôs a sua lei. Foi gerente de uma empresa chamada Pincor
do ramo das tintas, que terminou os seus desgraçados dias com avultadas dividas á banca.
Aliás como todas as empresas onde se meteu. Algumas de electrodomésticos. Todas faliram.
Devido ás muitas falcatruas que fez, incluindo passar cheques sem cobertura, foi condenado e proibido de passar cheques e de constituir empresas. Para deixar a empresa onde trabalhava, Pinto da Costa ainda teve que pagar sete mil contos e ficou sem carro por uns tempos. O milhão e tal de contos das transferências de Futre e Rui Barros tinha desaparecido sem deixar rastos e tinha deixado de...rastos PC, a contas com a justiça, por cheques sem cobertura e penhoras a bens pessoais. Foi um momento difícil, mas que não abateu o presidente, levando-o antes a pensar que o seu negócio era o futebol. Esteve sem ir a Aveiro durante 5 anos por causa de alguns processos por falências fraudulentas.
Os seus sócios dessas empresas tiveram que fugir para o Brasil. Mas a ele alguém lhe pagou as dívidas. Alguns poderosos do Norte, como Belmiro de Azevedo, Artur Santos Silva, etc. No princípio chegou a investir muito do dinheiro que tirava do FC Porto, nas empresas de familiares seus mas faliram todas. Depois passou a ficar com tudo. Criou a Cosmos, agência de viagens que lucrou imenso com as viagens dos clubes, obteve exclusivos com a Federação que obrigavam os clubes a viajar nessa agência. Esteve metido no negócio da droga, com Luciano D´ Onofrio(Aveiro Connection). Com a Olivedesportos fez muito dinheiro, como com todos os negócios do FC Porto, vendas e compras de jogadores, corrupção de árbitros, etc. Assim enriqueceu e tem hoje uma considerável fortuna.
Estudou num seminário, onde desde novo mostrou as capacidades que hoje lhe são reconhecidas. Pinto da Costa passou a sua idade escolar num colégio onde imperava um grande influência da religião católica e quando atingiu o liceu foi internado num colégio de padres(Jesuíta). Dos mais prestigiados do Norte do País. Ali fabricavam-se verdadeiros homens. Eram testados como cobaias para poderem enfrentar no futuro as mais adversas contrariedades da vida. Uma das disciplinas era constituída pela defesa individual de cada aluno perante toda a turma e, já nessa altura Pinto da Costa era o mais desenvolto no uso no discurso, na sua capacidade de raciocínio rápido e retenção na memória de dados essenciais.
Inteligente e astuto como um verdadeiro jesuíta, bem cedo começou a demonstrar um grande sentido de chefia. Sabia como dividir para reinar, utilizando um ar cândido e descomprometido quando algumas atitudes de má-fé lhe eram dirigidas. Atirava a pedra e sabia como esconder a mão. Mas a sua verdadeira arma era a grande capacidade de trabalho e a completa dedicação a tudo o que fazia. Chegou a pensar ordenar-se padre, e o director do colégio apostava que , se ele seguisse essa carreira, iríamos ter o segundo papa português. A sua postura, a sua forma de falar e de estar deram-lhe sempre um toque clerical. A mesma mão que abençoava os amigos, empunhava a cruz onde ele havia de crucificá-los. Cativava, fazia amizades com facilidade e sabia como as utilizar e destruir como se nunca tivesse culpa de nada.
Sendo religioso não pensava sequer em trair a sua esposa. Mas quando foi iniciado por Reinaldo Teles nas suas casas de sexo, tomou-lhe o gosto. Ficou viciado. Aliás a sua actual mulher, da qual tem uma filha, é uma ex-prostituta que conheceu num dos bares de Reinaldo Teles. Também usou anfetaminas durante algum tempo. Para aguentar as vitórias, o fanatismo anti-mouros, a idolatria que os adeptos do clube lhe devotavam, a guerra que os seus inimigos lhe moviam e as sessões diárias de sexo era preciso muito "speed".
1998 - Golpe de Estádio, de Marinho Neves - Editor: Terramar
O império de Oliveira
Joaquim Oliveira começou a vida a cozinhar, lavar pratos e a servir à mesa na Pensão Roseirinha, em Penafiel. Foi a fazer amigos e influenciar as pessoas que se transformou num magnata do futebol e da Comunicação Social
O futebol é o território da paixão em todos os domínios, excepto num - o dos negócios. A prova disso é que quase ninguém arrisca jurar por quem é que Joaquim Oliveira esteve a torcer segunda- feira à noite, no Sporting-FC Porto. O dono da Olivedesportos é extrovertido e amigo do seus amigos - que garantem que ele é uma pessoa encantadora. Mas quanto a preferências clubísticas, fecha-se em copas e adopta uma fria atitude racional.
Nasceu em Penafiel, a 12 de Fevereiro de 1947, filho de Dona Lucinda, proprietária da Pensão Roseirinha, desprovido de qualquer jeito para o futebol - ao invés do que aconteceria com o seu irmão mais novo, António, que se revelou um predestinado. A prenda dele era outra. Trazia como equipamento de origem aquele sexto sentido que lhe permite adivinhar de que lado do pão está a manteiga.
No restaurante da mãe, cozinhava, servia à mesa e lavava pratos. Foi fiel de armazém antes de a tropa o levar para o Norte de Angola. Gostou dos ares da antiga colónia, onde regressou depois de regressar à vida civil. Tinha 23 anos e já era um popular comerciante de Luanda, dono de uma cervejaria e sapatarias, cómoda situação que teve de abandonar, num apressado retorno à metrópole, quando os três movimentos de libertação de Angola se envolveram numa sangrenta e prolongada guerra civil.
De volta ao Porto, o irmão deu-lhe uma mão, ajuda que ele mais tarde retribuiria, com juros, dando-lhe as duas. Vagabundeou por vários comércios - geriu um bar de «strip-tease» no Porto e uma charcutaria em Lisboa - até se instalar em definitivo na capital e deitar âncora nos negócios do futebol, fundando a Olivedesportos em 1984, a meias com o irmão.
Vinte anos depois é rico, poderoso e tem os vícios correspondentes. Fuma dois ou três charutos cubanos por dia e bebe uísque Old Parr. Habita com a mulher, Irene, uma moradia em Bicesse, que tem as paredes decoradas com uma selecção ecléctica de nomes seguros da arte contemporânea portuguesa (Vieira da Silva, Medina e Pomar). O irmão, António, é obcecado por pintura, sendo o maior coleccionador privado de obras de Júlio Resende. Ele prefere os relógios, de todos os feitios, caros e baratos. É coleccionador compulsivo - tem-nos às centenas.
O jardim da moradia tem espécies orientais que ele aprecia e albergou uma horta com cebolas, batatas e couves que Joaquim plantou quando reparou que os netos não faziam a mínima ideia de qual era a origem do que lhes aparecia no prato.
A não ser que tenha um pequeno-almoço madrugador marcado para as sete da manhã, no Tivoli, com o amigo e banqueiro Ricardo Salgado (presidente do BES), prefere deixar passar a hora de ponta na A5 antes de se aventurar em guiar para o escritório nas Laranjeiras, junto à Loja do Cidadão.
A sua maior especialidade é fazer amigos e cultivar relações, artes em que é um verdadeiro mestre, como se prova pelo facto de ter reunido Santana Lopes e José Sócrates em sua casa, quando fez 57 anos. Mal reparou que o golfe era um desporto magnífico para cultivar relações, não hesitou um segundo em comprar lições e encomendar um saco.
A relação estreita de amizade que mantém com o actual primeiro-ministro remonta ao tempo em que Sócrates foi encarregado por Guterres da campanha para trazer o Euro 2004 para Portugal. Joaquim, cuja rede de influências no domínio do futebol não conhece fronteiras, deu uma preciosa ajuda nos bastidores, abrindo uma porta aqui, desbloqueando um apoio acolá, numa acção decisiva para a vitória final. Sócrates não esquecerá nunca esses favores.
O texto que se segue tem como objectivo ajudar o leitor a perceber como é que um modesto fiel de armazém de Penafiel se transformou num dos homens mais poderosos do nosso país.
Joaquim era pau para toda a colher na Pensão Roseirinha, em Penafiel, dirigida com mão de ferro pela mãe Lucinda e famosa pelo lendário cabrito assado no forno. Enquanto Toninho, o irmão, cinco anos e meio mais novo, entretinha reformados e desempregados no Campo da Feira fazendo magia com uma bola de futebol, ele cozinhava, servia à mesa e lavava os pratos. Pela vida fora, os papéis dos irmãos Oliveira nunca mais se inverteram. António sempre viveu da inspiração. Joaquim triunfou à custa da transpiração.
DA PENSÃO ROSEIRINHA AO «STRIP-TEASE» ZIMBO
Ainda foi fiel de armazém antes de ser chamado a defender a pátria, no Norte de Angola. A tropa teve o condão de abrir ainda mais os olhos a este rapaz, atinado e trabalhador, mas também muito empreendedor e ambicioso, que logo identificou Angola como terra de boas oportunidades. Depois de desmobilizado, ainda viajou até à Metrópole mas logo regressou a Luanda. Com apenas 23 anos, já era dono do seu próprio restaurante, e como não era homem para ficar parado alargou os interesses empresariais ao comércio de sapatos.
No dealbar dos anos 70, dono da Cervejaria Esplanada São João, era uma figura popular na cena de Luanda. Tinha boa conversa, uma lendária facilidade de fazer amigos e era irmão de Oliveira, o ídolo azul-e-branco da bola que despontava na metrópole e cujas proezas eram relatadas com detalhes encomiásticos pelos jornais e rádios angolanas. Tudo isto ajudava a vender mais uns barris de cerveja Cuca.
O 25 de Abril estragou-lhe os negócios angolanos. A guerra civil, que rebentou ainda antes da declaração da independência, a 1 de Novembro de 1975, tornou o ar de Luanda irrespirável para um próspero comerciante branco. Retornou a Portugal, deixando para trás sapatarias e cervejaria.
Teve de começar de novo, refazendo a vida com a ajuda do irmão futebolista, cujo imenso talento se esgotava entre os relvados e os namoros. O mano mais velho entrava com o jeito para os negócios. O mais novo contribuía com a massa.
ANTÓNIO VOLTA AO PORTO, JOAQUIM FICA EM LISBOA
Joaquim vagabundeou por diversos negócios - como o Zimbo, clube de «strip -tease» na Rua Santa Catarina (Porto), ou uma charcutaria no Centro Comercial Alvalade, em Lisboa, para onde se mudou acompanhando o irmão quando este assinou pelo Sporting. Até que, no início dos anos 80, travou conhecimento e fez amizade com o italiano Diego Bastino, o maior empresário do mundo de publicidade estática, actividade que o pai Bastino tinha inventado e iniciara em 1952, no Estádio de Wembley.
Em 1984, deitou para trás das costas o cheiro a fritos e assados, passando a dedicar-se à exploração da publicidade nos estádios. Nascia a Olivedesportos, com o capital dividido em partes iguais pelos dois irmãos de Penafiel, a empresa que organizou, profissionalizou e ajudou a revolucionar os negócios do futebol no nosso país.
Antes dos Oliveiras, a publicidade à volta dos campos era uma actividade amadora. Como a soma das receitas conseguidas com a bilheteira e as quotas dos sócios nunca chegavam para fazer face às despesas, os dirigentes dos clubes pediam ajuda aos empresários da terra, oferecendo-lhes em troca espaço nos painéis publicitários.
A Olivedesportos arrancou com as concessões do Chaves e do Sporting mas rapidamente cresceu. Dez anos depois já controlava a publicidade estática de 14 dos 18 clubes da primeira divisão. No início, dedicou-se à compra e venda de jogadores, actividade em que se estreou em 1984 importando os paraguaios Alonso e Cabral para o Rio Ave. Chegou mesmo a criar uma sociedade para este negócio, a Futinvest, que tinha como director-executivo José Veiga, o antigo presidente da Casa do FC Porto no Luxemburgo, que à época vivia nas boas graças de Pinto da Costa. Posteriormente abandonou esta área de negócio, passando a empresa a Veiga.
A opção era clara. Tratava-se de focalizar a actividade do grupo na exploração da publicidade estática e das transmissões televisivas, negócios que implicavam estar de bem com os clubes a quem compravam os direitos. E as compras e vendas de jogadores podiam introduzir um ruído desnecessário num negócio que deslizava sobre rodas.
Em 1985, intermediou a sua primeira transmissão televisiva de um jogo de futebol (Checoslováquia-Portugal). No ano seguinte, foi visto em Saltillo a carregar painéis de publicidade e a dirigir a sua colocação à volta dos campos em que a selecção portuguesa disputou os três jogos no Mundial do México. António arrumara, no entretanto, as botas e regressara ao Porto. Ainda era o mais famoso dos dois irmãos. Mas não o seria por muito mais tempo. Joaquim optou por se manter em Lisboa. Com a sua facilidade em fazer amigos e influenciar as pessoas, o negócio prosperava até ser sacudido pelo sobressalto do nascimento da televisão privada.
RICARDO SALGADO DÁ UMA AJUDA
O aparecimento da SIC e a vitória de Vale e Azevedo nas eleições do Benfica ameaçaram seriamente o equilíbrio ecológico em que medrava o negócio dos irmãos Oliveira. O novo canal privado escolheu o futebol para levar os portugueses a sintonizarem o canal 3 nos seus aparelhos, o que agitou o doce e reservado mundo das transmissões televisivas, até aqui reserva de caça exclusiva da Olivedesportos.
A SIC abriu as hostilidades, quebrando o monopólio ao pagar 400 mil contos por três jogos (Porto-Benfica, Sporting-Benfica e Sporting-Porto). Seguiu-se o ataque de Vale e Azevedo que mal chegou à presidência do Benfica rasgou os contratos que o seu antecessor Manuel Damásio tinha assinado com a Olivedesportos, e negociou com a SIC direitos de transmissão televisiva pelos quais o seu clube já recebera. No entretanto, o «Record», dirigido pela dupla Cartaxana/Marcelino era a ponta de lança da campanha contra uma Olivedesportos acusada de, em coligação com o FC Porto, controlar o futebol, com recurso a meios duvidosos.
A batalha ia ser dura. Demorou anos e desenrolou-se em diversos tabuleiros. Nos tribunais, mas também nas páginas dos jornais e nos ecrãs de televisão. Para não lhe faltar a voz durante os tempos de difíceis combates que se avizinhavam, Joaquim adquiriu, em 94, por um preço simbólico (50 mil contos), o jornal desportivo «O Jogo», que a Lusomundo se preparava para encerrar, insatisfeita com os escassos sete mil exemplares de circulação do diário - número que em dez anos foi multiplicado por sete, na sequência de um investimento acumulado que rondou os 15 milhões de euros.
UMA FANTÁSTICA TEIA DE CUMPLICIDADES
Por falta de fôlego financeiro, em dado momento desta guerra contra a dupla Rangel/Vale e Azevedo, Joaquim esteve à beira de atirar a toalha ao chão. Encarou mesmo vender o grupo, então avaliado no intervalo entre os 12 e os 15 milhões de contos, a Francisco Balsemão. Mas Ricardo Salgado deu-lhe a mão, comprando-lhe o tempo necessário para ganhar a guerra. Foi o início de uma bela amizade com o banqueiro. Mais tarde, o BES e a PT desaguaram no mundo do futebol - até então muito ligado ao BPI, que montara as SAD do Sporting, FC Porto e Boavista - pela mão de Joaquim, patrocinando os três grandes e a Selecção.
Durante a guerra foi cuidadoso. O alvo dos processos judiciais foi sempre Vale e Azevedo, nunca o Benfica. Na hora da vitória, com o inimigo atirado para a cadeia, soube ser magnânimo, ao converter em 20% do capital da Benfica Multimedia os 2,1 milhões de contos que o clube encarnado teria de lhe devolver.
Em 1994, afirmou ao EXPRESSO que o segredo para a posição dominante que alcançou no negócio das transmissões televisivas reside no facto de «pagar mais e melhor que os outros». «O segredo talvez esteja em considerar os meus parceiros de negócios como pessoas inteligentes e de boa fé», acrescentou. Mas esta é apenas uma parte do segredo. A outra parte consiste em ter uma estratégia certa, alicerçada numa formidável rede de relações, amizades e cumplicidades que vai tecendo ao longo dos anos. Os clubes de futebol são a base do negócio. Por isso, quer eles, quer os seus dirigentes, são sempre muito bem tratados. Dar dinheiro a ganhar aos clubes que lhe vendem as concessões de publicidade e os direitos televisivos é um ponto de honra para Joaquim. Por isso, está sempre disponível para substituir-se aos bancos, financiando os clubes nas horas de aperto, em troca do dilatar do prazo de vigência dos contratos...
E além de lhes acudir quando estão com dificuldades de tesouraria, Joaquim também soube estabelecer parcerias e laços que duram para além dos mandatos dos dirigentes com que ele cultiva frutuosas amizades. A dimensão desta teia de cumplicidades salta à vista quando se olha para a carteira de participações da Olivedesportos, onde convivem 19,4% do Sporting, 11% do FC Porto, 23,3% do Boavista, 20% da Benfica Multimedia, e ainda posições no Belenenses, Braga e Alverca. A legislação portuguesa não impede esta acumulação desde que os direitos accionistas de voto sejam usados apenas numa sociedade - e ele faz questão de não exercer em nenhuma.
A verticalização é o fio condutor da estratégia urdida por Joaquim e que tem sido rigorosamente seguida nas duas últimas décadas. Começou com a concessão de publicidade estática. Evoluiu para a intermediação dos direitos de transmissão televisiva. Continuou para montante, tomando posição no capital dos clubes, e para jusante, passando a ter um pé na emissão, ao participar na fundação da SportTV. E como já se sabe, não ficou por aqui.
A RESPEITABILIDADE POR 12 MILHÕES DE CONTOS
Em 1999, a Olivedesportos pagou 95 mil contos à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pelos direitos relativos à final da Taça de Portugal. Depois revendeu à RTP os direitos de transmissão televisiva por 90 mil contos. À primeira vista perdeu dinheiro. Na realidade ganhou - e muito - , já que os 95 mil oferecidos à FPF incluíam a concessão da publicidade no Estádio Nacional. Publicidade e transmissão televisiva de jogos são negócios complementares. Todas as semanas, uma equipa da Olivedesportos visiona cuidadosamente todos os desafios televisionados anotando cada vez que um anúncio, disposto ao longo da linha lateral ou atrás da baliza, passa na TV. A factura segue depois pelo correio.
A beleza deste negócio vertical reside na sua complementaridade em cadeia, no facto de cada um dos seus segmentos potenciar os lucros do anterior e do seguinte. Dito por outras palavras, Joaquim é um intermediário completo. Numa ponta estão os clubes, a Liga e a FPF. Na outra, os anunciantes, os telespectadores e os canais de televisão. Ele une as pontas, preenchendo o espaço entre elas. Tem a concessão da publicidade nos estádios, cujo preço muito naturalmente aumenta em proporção à quantidade de gente que vê o anúncio. Adquire os direitos de transmissão televisiva, que fazem crescer os preços da publicidade. Ganha ao revender estes direitos aos canais de televisão. E ao fundar a SportTV subiu nesta cadeia de valor, passando a lucrar a dois carrinhos - como fornecedor e como accionista.
Na guerra de meados dos anos 90 contra Vale Azevedo e a SIC, Joaquim sentiu a necessidade de no negócio da televisão estar presente não apenas na venda de conteúdos mas também na sua emissão. Por isso, mal se recompôs logo tratou de cerzir alianças com a PT e o BES, que ainda este ano se revelaram úteis no concurso de venda da Lusomundo, onde derrotou adversários poderosos como a Cofina e os espanhóis da Prisa.
IRMÃOS TÃO DIFERENTES COMO A ÁGUA DO VINHO
O passo decisivo deu-o no ano 2000, quando pagou 12 milhões de contos por 2,5% da PT Multimedia (PTM). Foi a jóia de entrada num clube muito restrito e exclusivo. Joaquim, o rapaz de Penafiel que ajudava a mãe no restaurante da Pensão Roseirinha, conquistava em Lisboa os últimos galões da respeitabilidade. Ricardo Salgado era o seu banqueiro. A PT era sua sócia na SportTV. E ele tornara-se accionista relevante da PTM, de que era administrador não executivo. Não era caso para imitar Leonardo Di Caprio, quando ele se empoleirou na popa do Titanic e se pôs a gritar «I’m the king of the world» - mas andava lá por perto.
O contrato Olivedesportos, celebrado há 20 anos entre António, sócio-capitalista , e Joaquim, o sócio-trabalhador (que percebe do negócio), teve desenlace típico neste tipo de sociedades. Com o devir dos tempos e o evoluir favorável dos negócios, o sócio-trabalhador vai acumulando capital e preponderância, na exacta medida em que se fragiliza a posição do «sleeping partner» capitalista. O prazo de validade da empresa, detida em partes iguais entre os dois irmãos, tinha chegado ao fim. O divórcio consumou-se há alguns meses mas estava já a ser preparado em silêncio há dois anos. As coisas nunca acabam bem - senão não acabavam. Mas a separação de águas entre os irmãos Oliveira pautou-se por uma enorme discrição. Depois de feitas as avaliações, António abandonou a sociedade trazendo no bolso um cheque de 35 milhões de euros e 11% da SAD do FC Porto, o que o coloca num dos lugares da frente (senão mesmo na «pole position») na corrida pela sucessão de Pinto da Costa.
Já muito tempo durou esta aliança entre dois irmãos tão diferentes como a água do vinho.
O IMPÉRIO LUSOMUNDO
António é um bicho de buraco, pouco atreito a travar novos conhecimentos. Os seus amigos de agora são os mesmos de há 20 anos. Foi o mais genial jogador português da sua geração mas falhou quando emigrou para Espanha. Transferido para o Bétis, sempre que podia metia-se no carro e ia para o Porto, apesar de na altura não haver ainda auto-estrada. O facto de ser excessivamente poupado leva os amigos a gracejarem dizendo que nunca lhe viram a carteira. Introvertido, fecha-se na sua casa portuense, na Avenida Marechal Gomes da Costa, aproveitando os tempos livres a negociar no imobiliário, comprando e vendendo casas, em Portugal e no Brasil.
Joaquim é um ser eminentemente sociável, sempre disponível para fazer novos conhecimentos. Não é o Pacheco Pereira, mas mesmo assim tem uma conversa boa e variada - não é daqueles que parece um disco riscado e só fala de futebol. Tem muitos amigos, que capricha cultivar e tratar bem, telefonando-lhes com regularidade e presenteando pelo Natal com bons vinhos. Extrovertido, aos 30 e tal anos aculturou-se à vida de Lisboa com a mesma facilidade com que aos 20 e tal anos se adaptara à de Luanda. Da sua origem nortenha guarda apenas dois vestígios - o sotaque e uma casa em Vilamoura.
A compra da Lusomundo, por 300,4 milhões de euros, é mais um ponto de partida do que de chegada. Com um só lance, Joaquim consolidou laços com dois aliados poderosos (PT e BES) e aumentou exponencialmente a sua influência na vida política, económica e desportiva portuguesa. Tem por isso reunidas as condições para um novo salto qualitativo.
Primeiro vai digerir as aquisições. Ele é um cerebral. O seu estilo é o do jogador de xadrez que estuda detalhadamente as consequências possíveis de todas as jogadas antes de se decidir a mexer a sua peça. É esperto e intuitivo, mas também um trabalhador que lê os dossiês e ouve pacientemente os especialistas. Só avança quando tem a certeza de que vai no caminho certo.
Antes de se decidir pela substituição do sistema de rotação mecânica da publicidade por um novo, eléctrico, estudou com detalhe o novo sistema e só optou por ele quando encontrou a solução para um problema que o intrigava - por que é que durante um jogo se fundiam tantas lâmpadas...
A Lusomundo apresenta-lhe um problema novo. Até agora, lidou sempre com projectos que arrancavam de raiz. Agora comprou uma série de empresas com cultura e história próprias. O que é um enorme desafio para um homem que tem gerido os seus negócios muito apoiado num pequeno estado-maior familiar - Rolando, o filho licenciado em Gestão, é o seu braço-direito, enquanto que Gabino, o outro filho varão, licenciado em Novas Tecnologias, se tem encarregue da informática -, demasiado curto para a tarefa que tem pela frente. E o caso não se resolve adicionando ao elenco a filha, licenciada em Psicologia.
Mas, se for bem sucedido na digestão da Lusomundo, não vai resistir à tentação de acrescentar as duas jóias que faltam à sua coroa - um parceria estratégica e duradoura com o Benfica e uma posição importante num canal de televisão generalista. Sonhos que até nem serão muito difíceis de concretizar, tanto mais que ele sabe esperar. Mais tarde ou mais cedo o Benfica terá de abrir o capital. E ninguém abrirá a boca de espanto se Miguel Pais do Amaral resolver pôr à venda a sua posição na TVI. Ah, e no que toca a amizades, Joaquim Oliveira e José Eduardo Moniz dão-se tão bem como Deus com os anjos...
Fonte:
IN EXPRESSO
25 Março 2005
Comentário: (O que o Expresso se esqueceu de contar, entre outras coisas, é que foi um dos defensores da Olivedesportos e um dos inimigos de Vale e Azevedo durante a sua guerra).
Publicado por kapotes no Blog "Avante P'lo Benfica"
O Caso "Calabote" Parte I
O que realmente aconteceu no jogo com a CUF.
Nesse ano o Benfica não ganhou o campeonato. Logo o Calabote não é responsável por nenhum campeonato do Benfica. Depois o Sr. Calabote não deu mais de três a quatro minutos de descontos, plenamente justificados pelas constantes perdas de tempo dos jogadores adversários. Basta reler os jornais da época…
A grande questão, que dá origem a todos os exageros que hoje se propalam, residiu no facto do jogo ter começado seis minutos mais tarde que as tradicionais 15 horas, então o horário de início de todos os jogos.
A equipa do enfica demorou a entrada em campo (conforme se pode confirmar nos registos da FPF) o mais que pode, de forma a poder vir a beneficiar do conhecimento do resultado em Torres Vedras, facto que levou a que o clube fosse então (justamente) multado.
Esses seis minutos juntos com os três a quatro minutos que o árbitro prolongou o jogo para compensar perdas de tempo, levou a que o jogo da Luz tivesse terminado apenas mais de dez minutos depois do de Torres Vedras, tempo durante o qual a equipa do FC Porto esperou em pleno campo, para depois festejar a conquista do título. E foi essa longa espera, superior a dez minutos, que deu origem à lenda-Calabote, que tão aproveitada (e distorcida) tem sido ao longo dos tempos.
O Benfica não foi em nada beneficiado com essa arbitragem. E o árbitro até teria tido todas as possibilidades de «dar» o título ao Benfica, já que o nosso clube marcou o seu último golo aos 38 minutos da segunda parte e, quando o jogo de Torres Vedras terminou, o Benfica ainda teve cerca de dez minutos (seis regulamentares e mais três a quatro de “descontos”) para marcar aquele que lhe daria o título.
De referir que, também para Torreense e CUF este jogo era decisivo. Jogavam ambas a manutenção, e muito se falou na altura de prémios especiais e incentivos secretos (em ambas as equipas). No final, o Torreense desceu mesmo, e a CUF acabou por ter que disputar o então chamado Torneio de Competência, com os melhores classificados da II Divisão
Voltando ao jogo, ao intervalo, o Benfica já estava em vantagem: ganhava por 5-0 à CUF, enquanto o FC Porto vencia em Torres Vedras por 1-0. Entretanto, na Luz o resultado foi fixado em 7-1 quando havia sete minutos para jogar, mas em Torres Vedras, a dois minutos do fim, o FC Porto fazia 2-0 e, a vinte segundos do final, Teixeira marcou o terceiro e decisivo golo. O Benfica jogou ainda dez minutos, mas não conseguiu o golo que lhe faltava.
Casos houve muitos, mas nos dois jogos. Comecemos pelo encontro do Porto. Se no primeiro golo, marcado em superioridade numérica, porque um jogador do Torreense era assistido fora de campo por "lesão", não há "nada" a apontar, a verdade é que a arbitragem de Francisco Guiomar foi bastante contestada. Aos 20 minutos da segunda parte Manuel Carlos era expulso e deixava a equipa de Torres Vedras reduzida a 10 elementos. Aos 89 minutos, a seguir ao 2-0, novo jogador era expulso (por pontapear a bola para longe depois do golo), aparecendo em seguida o 3-0, quando jogavam 11 contra 9.
Vejamos o que então se escreveu sobre o tempo de desconto, não sem que, antes, se recorde que, na altura, a missão dos árbitros era bem mais difícil, pois não havia cartões amarelos, o guarda-redes podia passear com a bola na grande área, batendo-a no chão as vezes que entendesse e a demora nos lançamentos da linha lateral não era castigada com lançamento a favor da equipa adversária.
Alfredo Farinha, em “A Bola”, foi bem claro: «O recurso sistemático aos pontapés para fora do rectângulo, a demora ostensiva na marcação dos livres e lançamentos de bola lateral, as simulações de lesionamentos, o uso e abuso, enfim, de todos esses vulgarizados meios de “queimar tempo” (…) dificilmente encontram, no caso de ontem, outra justificação se não esta: a Cuf não jogou, exclusivamente, para si mas também para uma outra equipa (a do FC Porto) que estava à margem da luta travada na Luz.» Mais adiante, na apreciação ao trabalho do árbitro, acrescenta Alfredo Farinha: «No que se refere ao prolongamento de quatro minutos, cremos ter deixado, ao longo da crónica, justificação bastante para o critério do sr. Inocêncio Calabote.»
No “Mundo Desportivo”, Guilhermino Rodrigues não comungava da mesma opinião, mas até considerou menor o tempo de desconto e acabou por o justificar: «Exagerado o período de três minutos que concedeu além do tempo regulamentar para contrabalançar os momentos gastos em propositada demora pelos cufistas.»
No “Record”, em crónica não assinada (um antigo hábito do jornal), uma outra opinião: «Deu quatro minutos (…) pela demora propositada dos jogadores da Cuf – alguns deles foram advertidos – na reposição da bola em jogo. Não compreendemos porque não usou do mesmo critério no final do primeiro tempo, dado que aquelas demoras se começaram a registar desde início.» Esclarecedor… Dois “penalties” indiscutíveis Um só duvidoso.
Os jornais foram unânimes em considerar indiscutíveis o primeiro e o terceiro e apenas o segundo deixou dúvidas.
“A Bola”: «Quanto aos “penalties”, não temos dúvida de que o primeiro e o terceiro existiram de facto; dúvidas temos, porém, quanto ao segundo, pois Cavém, ao que se nos afigurou, não foi derrubado por um adversário, antes foi ele próprio que se descontrolou e desequilibrou.»
“Record”: «Regular comportamento no julgamento das faltas. Só não concordamos com a segunda grande penalidade. A falta existiu, na verdade, mas só por ter sido executada fora de tempo merecia livre indirecto.»
“Mundo Desportivo” (a propósito do segundo penalty): «Cavém obstruído quando perseguia a bola dentro da área. A falta só exigia livre indirecto.”
Concluimos assim que o caso Calabote não passa de uma lenda. O FCP foi campeão nesse ano, o tempo de desconto justifica-se, e a existir beneficio foi num penalty onde a duvida é a de ser dentro ou fora da área porque falta existiu. Se hoje em dia os arbitros enganam-se nestes lances, o que se dirá há 50 anos.
Publicado por kapotes no Blog "Avante P'lo Benfica"
As manobras de Pinto da Costa - Um extracto
Pinto da Costa assume a presidência do FC Porto em 1982 e elege as arbitragens como uma das suas guerras, uma vez que considerava que, como em tudo o resto, o poder estava em Lisboa e havia que combatê-lo. Naquele tempo, os árbitros eram nomeados e ele era contra. Queria transparência, ou então um sorteio, seja o que for, tudo menos o que existia na altura.
“É preciso que se diga que este árbitro não tem categoria nenhuma para apitar jogos de futebol. Já está demonstrado, mais uma vez, que é necessário voltar-se ao sorteio dos árbitros, porque está provada também a incapacidade das nomeações.” Record, 7 de Setembro de 1982
“Defendemos há muito tempo que o processo das nomeações dos árbitros tem de ser perfeitamente transparente e não dar lugar a especulações de espécie alguma. Não posso aceitar que um, dois ou três elementos tenham nas suas mãos a possibilidade de decidir arbitrariamente, em segredo – pelo menos para a maior parte – as nomeações.”
“Creio até que em grande parte dos jogos se poderia proceder a nomeações com o consenso geral, mediante a presença dos delegados dos clubes. Se não fosse possível esse consenso, deveria proceder-se a um sorteio com a presença dos delegados" A Bola, 11 de Setembro de 1982
“Tenho estado frontalmente contra o critério das nomeações" Record, 4 de Março de 1983.
Muita coisa acabaria por mudar nos anos seguintes… Pinto da Costa não só vai passar a ser a favor das nomeações, como estas estarão a cargo unicamente de dirigentes que são sócios do FC Porto, e nessa altura não questionará a transparência.
Mais tarde, chegará finalmente o sorteio, mas será contra porque diz ser um “pseudo-sorteio”, e depois voltarão as nomeações e ele concordará plenamente, até porque agora, veio a saber-se mais tarde nas escutas do “Apito Dourado”, Pinto da Costa tinha voz activa nas mesmas, em segredo, com pedidos e sugestões, o que vai custar ao clube uma condenação na justiça desportiva.
O “Apito Dourado” é o maior escândalo do futebol português. Ainda que a justiça civil não tenha acompanhado ao mesmo ritmo as condenações da justiça desportiva, para a história ficaram as célebres escutas, que divertiram e chocaram os portugueses. Um dos apanhados em flagrante, como se sabe, é Pinto da Costa. O país assiste, estupefacto, a alguns pormenores da arbitragem portuguesa. Ainda que a justiça civil tenha ilibado o dirigente, ficará sempre a certeza do poder de influência que Pinto da Costa tinha sobre os árbitros e sobre quem os nomeava. As escutas revelam isso mesmo, e revelam também que estranhos eram os caminhos do homem que dirigia o FC Porto.
Em Março de 2003, os jornais são convidados a assistir à cerimónia de entrega das insígnias a um novo árbitro muito especial, a própria filha de Pinto da Costa, muito entusiasmada com o curso que acabara de completar. Com a imprensa presente, sob o olhar do pai, Joana assina a Compromisso de Honra.
“Declaro que servirei com fidelidade a Causa Desportiva, obedecendo aos meus dirigentes, observando os seus conselhos e ordens. Serei fiel aos princípios da honra, cumprindo zelosamente o meu dever de Árbitro quando me for confiada a direcção de um jogo, honrando assim a tradição desportiva, com lealdade, correcção e imparcialidade na aplicação das leis.”
Porto, 12 de Março de 2003 – O árbitro, Joana Pinto da Costa
Pinto da Costa dá-lhe um beijo e diz à imprensa que se sente “um pai orgulhoso”. Ao lado está Pinto de Sousa, que até oferece à petiza o seu primeiro equipamento. Por esta altura já estão os dois a ser escutados.
Exclusivo: As Manobras Secretas de Pinto da Costa - 17-11-2010 - Sábado Online
Luciano D'Onofrio, um velho conhecido
O atual vice-presidente executivo do Standard de Liége, Luciano D'Onofrio, figura central da investigação que levou hoje a polícia a buscas na SAD do FC Porto, é um velho conhecido do futebol português.
Em 1977/78 chegou a Portugal, ondicado por Norton de Matos, para jogar no Portimonense, após ter sido preso na Bélgica por tráfico de droga, destituído da nacionalidade belga e expulso do país, como cidadão estrangeiro, uma vez que passou a deter apenas a nacionalidade italiana.
Pouco depois, sofreu uma grave (tripla) fratura da perna, que forçou o fim da carreira, passando a negociar jogadores, os primeiros dos quais os seus compatriotas Cadorin e Alan. Esse primeiro negócio correu de feição, tanto mais que Cadorin, já falecido, chegou a Portimão e "partiu a loiça", suscitando o interesse do Sporting, que avançou para a sua contratação. No entanto, um acidente num churrasco causou-lhe graves queimaduras e o contrato foi anulado.
Essas transferências transformaram-no numa figura conhecida, chegando a ser convidado pelo antigo presidente do Sporting João Rocha para um sorteio das competições europeias, onde encontrou Pinto da Costa, com quem viria a estabelecer amizade, chegando a desempenhar funções no FC Porto como diretor do futebol. Nas Antas, Juary, Paulo Futre, Rui Barros, Demol, Sérgio Conceição, Folha, Moreira e Jorge Costa, além do treinador Tomislav Ivic, foram alguns dos muitos jogadores que transferiu do e para o FC Porto.
Esta parceria seria duradoura, apesar de alguns anos de afastamento, que lhe abriu as portas a negócios com os rivais Sporting (César Prates, André Cruz, M'Penza, Horvath e Vinícius) e Benfica (Michel Preud'Homme).
Em 1998, D'Onofrio comprou um endividado Standard, juntamente com o ex-presidente do Marselha, Robert Dreyfus, já falecido, assumindo as funções de vice-presidente executivo, apesar de, na prática, mandar.
Trouxe alguma estabilidade financeira ao Standard, o que lhe conferiu certa imunidade perante o assédio da justiça belga, continuando a intermediar transferências, apesar de lhe ter sido retirada a carteira de agente FIFA na sequência da condenação de que foi alvo por um tribunal de Marselha, França.
D'Onofrio foi condenado, no âmbito de um processo judicial interposto contra o Marselha, a seis meses de prisão efetiva (e multa de 357 mil euros) e proibido de exercer qualquer actividade ligada ao futebol durante cinco anos.
Há vários anos que está sob alçada da polícia de investigação de crimes financeiros na Bélgica, que já efetuou duas buscas no Standard, sem resultados, por suspeitas de crimes de branqueamento de capitais, fuga de impostos e de capitais para paraísos fiscais.
É no âmbito desta investigação que se inserem as buscas que a polícia judiciária efetuou à SAD portista para recolha de documentos relacionados com a empresa International Agency For Marketing, sediada num paraíso fiscal, tida nos meios futebolísticos belgas como propriedade de Luciano D'Onofrio.
24 fevereiro de 2010 - Record
Lavagem de dinheiro em vendas do FC Porto
Belgas suspeitam que empresário Luciano D’Onofrio se apoderou de comissões com contratos de direitos de imagem.
A SAD do FC Porto foi ontem alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária do Porto, a pedido das autoridades belgas, em resposta a uma carta rogatória onde se investiga o empresário Luciano D’Onofrio e os negócios feitos com Pinto da Costa. É suspeito de fraude fiscal e branqueamento de capitais, na sequência de transferências de jogadores portistas, desde a década de 90. O esquema passava pelo pagamento de direitos de imagem que revertiam a favor do empresário.
Em causa estão as mudanças de Vítor Baía para o Barcelona, Sérgio Conceição para a Lázio e ainda Folha para o Standard de Liége. O empresário mediou os negócios milionários e ter-se-á apropriado indevidamente de grandes quantias de dinheiro, que ficaram por declarar. A investigação belga data de 1996 e agora as autoridades pediram a colaboração a Portugal.
Segundo o CM apurou, os belgas procuram indícios de branqueamento de capitais, já que o quadro legal naquele país da Europa não exige a existência de qualquer crime associado. Luciano D’Onofrio poderá vir a ser indiciado apenas por branqueamento. Não há suspeitas de envolvimento do clube ou dos atletas cujas transferências foram investigadas.
Entretanto, durante a tarde de ontem, a própria SAD do FC Porto confirmou as buscas por parte das forças policiais, que começaram pelas 10h00 e pretendiam documentos relacionados com a empresa International Agency for Marketing, que está sediada no Liechtenstein, e que tem como beneficiário o agente italo-belga, agora dirigente do Standard de Liége.
A proximidade de D’Onofrio com Pinto da Costa tem já várias décadas. Nos anos 80, o empresário assumiu a pasta de director desportivo do FC Porto, liderando grande parte das transferências dos dragões nessa década – casos de Juary, Rui Barros ou Paulo Futre – tornando-se essencial para o sucesso desportivo e económico dos dragões.
Após ter enveredado pela carreira de empresário – um dos primeiros certificados pela FIFA –, D’Onofrio tornou-se um dos homens mais poderosos do futebol, sendo raro o negócio milionário que não tivesse a sua mão.
PONTE ENTRE PORTO E LIÉGE
Luciano D’Onofrio começa a investir no Standard de Liége em 1998, mas não aparece oficialmente nos quadros do clube até 2004, até porque era empresário ainda em funções. A partir da sua entrada no clube, o Standard subiu em flecha e, em 2008, sagra-se campeão, após 25 anos de jejum.
As relações de proximidade entre Luciano e Pinto da Costa permitiram ainda a chegada de vários jogadores do FC Porto ao clube belga. António Folha, Fredrik Sodestrom, Nuno André Coelho, Areias, Sérgio Conceição e Jorge Costa saíram dos dragões para jogarem no Standard.
PERFIL
Luciano D’onofrio nasceu em 1955, em Itália, mas três anos depois mudou-se para Liége, na Bélgica. Torna-se jogador de futebol, mas termina a carreira aos 28 anos, já em Portugal, no Portimonense. Envereda pelo dirigismo, sendo director do FC Porto. Passa depois a ser um dos maiores empresários do mundo do futebol. Actualmente, está na direcção do Standard de Liége.
O GUARDIÃO MAIS CARO DO MUNDO
Uma das transferências em investigação é a de Vítor Baía para o Barcelona, no Verão de 1996, por uma quantia de 6,5 milhões de euros, então o maior valor pago por um guarda-redes na história do futebol mundial. O empresário Luciano D’Onofrio mediou as negociações, numa transferência que já motivou buscas nas instalações do clube catalão, em Junho de 2009.
VEIGA AFASTADO DO NEGÓCIO
O FC Porto vendeu, em 1998, Sérgio Conceição à Lázio, por cerca de dez milhões de euros, numa oferta que até chegou ao Dragão pelo empresário José Veiga. Contudo, o negócio seria finalizado por D’Onofrio, o que causou o corte de relações entre José Veiga e Pinto da Costa. Sérgio Conceição ainda jogaria no Standard de Liége, entre 2004 e 2007.
ANTÓNIO FOLHA NUM 'VAI E VEM'
António Folha era extremo-esquerdo e andou num autêntico 'vai e vem' entre o Porto e Liége, na Bélgica. Em 1998, o esquerdino foi emprestado pelos dragões ao Standard, mas ainda voltaria a vestir de azul-e-branco, antes de ser transferido, de forma definitiva, para os belgas, no final de 1999/2000. Em Janeiro de 2001, regressou ao FC Porto.
PORMENORES
CONDENADO A DOIS ANOS
Luciano D’Onofrio já foi condenado em França por quatro vezes, sendo o caso mais grave de 2006, quando levou dois anos de prisão, por comissões fraudulentas em transferências do Olympique de Marselha, entre 1997 e 1999.
500 CONTOS POR PENÁLTI
Serge Cadorin, antigo avançado do Portimonense entretanto falecido, revelou, em 1986, uma promessa de D’Onofrio que, em troca de um penálti a favor do FC Porto, lhe terá prometido 500 contos e uma transferência para os dragões ou para um clube europeu.
GUERRA ENTRE IRMÃOS
A mudança de Sérgio Conceição para a Lázio contribuiu para o esfriar de relações entre o líder do FC Porto e o irmão Alexandre. O corte total surgiria com um problema familiar.
BARCELONA VISITADO
Em Junho de 2009, o Barcelona foi também alvo de buscas, tendo em vista irregularidades nas transferências de Vítor Baía, do FC Porto, e Christophe Dugarry, do AC Milan. O negócio Baía teve a chancela de D’Onofrio.
PJ À ESPERA DE DADOS
O alegado pagamento de 3,2 milhões feito pelo Sporting a José Veiga, através de um contrato de direitos de imagem com João Pinto, continua ainda a ser investigado pela brigada que combate o crime económico na Polícia Judiciária. Foram pedidas informações bancárias ao Luxemburgo, depois de a verba ter sido transferida pelo menos entre duas entidades bancárias. As autoridades ainda não receberam as informações daquele país e o inquérito continua na PJ.
Em causa está uma verba que fugiu ao controlo do Fisco. João Pinto acabara de rescindir com o Benfica e o Sporting acabou por acordar a sua aquisição por 4,1 milhões. O contrato fala em direitos de imagem no valor de 3,2 milhões, que entraram numa conta de um banco inglês, em nome da empresa inglesa Goodstone, onde José Veiga tinha uma procuração que lhe dava amplos poderes.
Veiga diz que interveio no processo como amigo do jogador, mas o Sporting assegura que era o empresário de João Pinto. O atleta, por sua vez, começou por se dizer enganado e remeteu-se ao silêncio quando foi ouvido. As autoridades defenderam depois que João Pinto conhecia a existência da verba e foi também constituído arguido por fraude fiscal.
Da conta da Goodstone, a PJ apurou ainda que o dinheiro seguiu para o Luxemburgo. A investigação sustenta que antes de entrar nas contas de João Pinto o dinheiro passou por outra conta de Veiga no Luxemburgo. Além da fraude fiscal há também suspeitas de burla ao Sporting.
POLÍCIAS BELGAS EM PORTUGAL
Os carros da Polícia Judiciária e das autoridades belgas entraram várias vezes no Estádio do Dragão pela garagem. Foram discretos e rápidos no acesso ao escritório do edifício e apenas o Volvo com matrícula belga denunciou a investigação sobre o agente desportivo italo-belga e as buscas na SAD portista. À tarde, o presidente do FC Porto, Pinto da Costa, entrou na garagem , pelas 15h30, conduzido pelo motorista e saiu duas horas depois ao volante do seu automóvel. Nenhum outro movimento exterior revelou as diligências policiais.
Por:Tânia Laranjo/Sérgio Pereira Cardoso/Manuela Teixeira
25 Fevereiro 2010
Correio da Manhã
José Veiga, da Olivedesportos ao Benfica
"Trabalhar, trabalhar, trabalhar. O homem deve impor-se pela qualidade do seu trabalho." É uma das frases preferidas de José Veiga, cuja vida faz jus à velha máxima "subir a pulso". José Veiga nasceu em 1963, na distante aldeia de Seixo de Ansiães. A sua família, humilde, tem mais cinco irmãos (um rapaz e quatro raparigas), resolveu emigrar para o Luxemburgo tinha o menino apenas seis anos. No Grão-Ducado cresceu e, ao longo dos 23 anos em que lá viveu recebeu a sua instrução - tem o 12º ano - e , paralelamente, investiu na aprendizagem de vários idiomas que lhe viriam a ser muito úteis. Hoje fala fluentemente inglês, francês, alemão, italiano e luxemburguês. Entrou no mundo do trabalho como pintor de automóveis, foi delegado comercial, mas começou a realizar a sua fortuna quando entrou no mundo do agenciamento de jogadores.
Pelo meio, ainda no país que o acolheu, fundou, com um grupo de amigos, a casa do F.C. Porto no Luxemburgo, o clube do seu coração. Pouco depois foi convidado para dirigente do Sport Luxemburgo, à altura o maior clube do país.
Com apenas 29 anos regressou a Portugal e começou ai a construir a sua carreira como empresário FIFA, trabalhando maioritariamente com o F.C. Porto. Transferiu Celso e Ralph para as Antas e em 1992 mudou-se definitivamente para terras lusas tomando conta da Futeinveste, pela mão de Joaquim Oliveira. Foi viver para um apartamento em Massamá e conduzia um Volkswagen Golf.
Na empresa do dono da Olivedesportos começou a construir a sua carteira de clientes que passou em 1994 para a sua empresa, a Superfute. Os primeiros grandes negócios ocorreram então, quando transferiu Fernando Couto do F.C. Porto para o Parma e Paulo Sousa do Sporting para a Juventus. Um ano depois levou Figo para o Barcelona.
Em 1998 teve início o processo que levaria ao ódio que muitos dizem ser eterno com Pinto da Costa. José Veiga leva às Antas uma proposta da Lázio por Sérgio Conceição, mas o negócio acaba por ser finalizado por Luciano D'Onófrio. Veiga sente-se passado para trás e começa a guerra. Transfere Figo e Zidane para o Real Madrid e traz Jardel para o Sporting mas acaba de relações cortadas com o goleador acusando-o de ser "um caso clínico".
Pelo meio garante o controlo maioritário do Estoril Praia e do Bonsucesso, do Rio de Janeiro. A sua carreira de empresário cai numa espiral descendente, perde Ronaldo, Quaresma e Tiago para o inimigo Jorge Mendes, perde Figo e acaba por se desligar do agenciamento de jogadores pouco antes de entrar para o Benfica.
Chega à Luz em 2004 pela mão de Vieira para director-geral da SAD. O seu principal triunfo foi ser campeão no ano em que entra no clube, com um treinador escolhido por si - Trapattoni -, ter feito regressar Nuno Gomes à Luz, contratar Miccoli e Koeman. Pelo meio, registo para os insucessos com Tomasson e D'Alessandro. Foi sempre uma figura discutida no Benfica, muito pelo passado ligado ao F. C. Porto.
José Luís Pimenta - 2006-11-15 - JN
Juan Figer, Rentistas, Hulk, Walter e FCP
Juan Figer nasceu no Uruguai. Existe uma dúvida sobre sua idade real: se ele tem 73 ou 78 anos; em sua declaração de impostos, sua data de nascimento consta como 4 de outubro de 1934; ocasionalmente Figer declarou que nasceu em 1º de janeiro de 1930.
Campeão juvenil uruguaio e sulamericano de xadrez, Figer começou trabalhando como vendedor de camisetas nas ruas de Montevidéu, também como office-boy. Enriqueceu intermediando importações e exportações, e, em 1958, após um grupo de colegas vencer as eleições para dirigir o Peñarol, Figer tornou-se o diretor das categorias de base do clube, e, após algum tempo, assumiu a direção comercial. Entre esses colegas, estava Julio María Sanguinetti, ex-presidente do Uruguai, e na época novo secretário-geral do clube. Durante esta gestão, o Peñarol conquistou o campeonato nacional diversas vezes, conquistou a Copa Libertadores da América e o Mundial de Clubes.
Em 1968, Figer se mudou para São Paulo, onde sua família já residia a quatro anos. Pretendia montar um escritório de comércio internacional, que nunca passou de uma idéia. Passado dois anos, ele organizou sua primeira partida: Flamengo versus Peñarol. Ambos os times tiveram dúvidas sobre o sucesso dessa partida e cobraram antecipadamente. O dinheiro pago a eles foi fruto de um empréstimo contraído por Figer. Para sua sorte, o Maracanã recebeu um público de 100.000 pessoas, e seu sucesso lhe deu tudo que precisava para desbravar-se no mundo do futebol. Visitando os clubes paulistas, Figer fez amizade com alguns conselheiros do São Paulo, e, neste ano realizou a sua primeira transferência: a de Pablo Forlán, até então lateral-direito do Peñarol, para o São Paulo Futebol Clube, pela quantia de US$ 80 mil. Neste mesmo ano, trouxe mais dois jogadores do Peñarol, que sofria de uma grave crise financeira, para o Brasil: Hector Silva, para o Palmeiras, pelos mesmo US$ 80 mil e Pedro Rocha, para o São Paulo, por US$ 190 mil. Em 1971 Figer tira o chileno Elias Figueroa do Peñarol e o leva para o Internacional (RS), pelo valor de US$ 50 mil.
Consagração
A profissão de agente foi regularizada pela FIFA apenas em 2001, mas Figer já tinha transferido alguns dos principais jogadores do mundo: Maradona, Klinsmann, Gullit, Rijkaard, Lineker, De León, Sócrates, Careca, Vialli, Casagrande, Dunga, Zé Roberto, Müller, Denílson, etc. Este último ainda bateria o recorde da transferência mais cara do mundo na época, do São Paulo para o Bétis, atingindo as cifras de US$ 40,5 mi..
Existe uma história até obscura que envolve um destes jogadores: Diego Armando Maradona. Em 1975, quando o argentino ainda tinha 15 anos e jogava nas categorias de base do Argentinos Juniors, Figer, que o conheceu devido ao intermédio de agentes argentinos, se encontrou com o então presidente da Portuguesa de Desportos, Manuel Mendes Gregório, na sede da Federação Paulista de Futebol. Em uma prosa, ofereceu o jogador à Portuguesa pela quantia de US$ 300 mil. Na época, Gregório achou a quantia um tanto alta, e refugou o negócio no ato. Em 1976 Maradona debutaria na primeira divisão, em 1977 faria sua primeira partida pela seleção argentina e, no ano de 1978, o Argentinos Juniors já pedia US$ 1 milhão por seu passe e Maradona já era um dos melhores jogadores de seu país. Curiosamente, foi deixado de fora do Mundial de 78.
Conforme o tempo foi passando, Figer, workaholic declarado, foi se tornando muito influente e rico. Fez amizade com os principais dirigentes do Real Madrid e do Milan, tem entrada franca nos principais times paulistas, foi representante do Bayer Leverkusen na América Latina. Passou a representar inúmeros jogadores, desde o território brasileiro até fora dele. E sempre afirmou ter uma linha mais modesta, quando levava um calote: "Quando um clube não nos paga, em vez de protestarmos, nós o promovemos e inventamos formas de ele gerar recursos", disse Figer ao Jornal do Brasil, em 1988.
Problemas com a Justiça
"Nesta perspectiva, faz total sentido a movimentação promovida pelo empresário Juan Figer, que funciona como intermediário em vendas e compras de jogadores de futebol no Brasil e no exterior. Credenciado como agente FIFA, Juan Figer busca valorizar passes de jogadores transferindo-os para clubes da Europa. Como rotina de transação e sob o pretexto de facilitar a compra pelo clube europeu, faz com que clubes uruguaios comprem parte do passe. O detalhe é que o atleta sequer joga no clube uruguaio que tem, em média, 50% do seu passe. Esse "entreposto" uruguaio cumpre um papel de instituição financeira, como um banco onde se consegue financiamento para aquela dada negociação, e que será muito bem recompensado com transações futuras daquele atleta."
Este fragmento de texto foi retirado do artigo 'O fim da "lei do passe" e seus efeitos, de Carlos Eduardo Freitas, datado de 19 de março de 2001.
Juan Figer, agora assessorado também pelo seu filho, Marcel Figer, fez algumas transações de jogadores que geraram dúvidas e suspeitas de evasão fiscal e de divisas, pela existência de algumas suspeitas:
- Seus jogadores geralmente pertenciam ao Central Español ou ao Rentistas, ambos uruguaios, e eram emprestados a clubes brasileiros ou faziam nesses clubes a ponte entre transferências América do Sul-Europa, caso apelidado de Triangulação Uruguaia;
- A enorme suspeita de convocação de seus jogadores para a seleção brasileira simplesmente para valorização do passe, e não por competência;
- O caso de passaportes europeus falsos, que aconteceram com alguns jogadores seus e foi amplamente noticiado na Europa.
Esses fatos repercutiram no mundo inteiro, e a Câmara de deputados brasileira chamou Figer para responder essas acusações na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar fatos envolvendo associações brasileiras de futebol, a CPI CBF/Nike, e na CPI do Senado, a CPI do Futebol. Ainda foi investigado pelo Ministério Público Federal. Alguns casos merecem maior destaque:
Esquema Central Español/Rentistas
Conforme averiguado pela CPI, neste esquema existiriam dois tipo de funcionamento:
- Figer indicaria jogadores brasileiros promissores ao Central Español ou ao Rentistas, que os adquirem de forma total ou parcial, e os emprestam a clubes de alto escalão brasileiros para valorizar os passes, e posteriormente seriam revendidos para a Europa com grande lucro;
- Os clubes uruguaios citados, por intermédio de Figer, adquiririam os jogadores, e de maneira quase automática, os revenderiam para a Europa por valores extremamente maiores que o da primeira transação.
O grande triunfo seria burlar a cobrança de impostos do território brasileiro.
Em um trecho do depoimento de Figer com a CPI, alguns membros do legislativo discutem sobre o caso do jogador Lucas, ex-Atlético PR:
"O SR. GERALDO ALTHOFF – Um dos jogadores brasileiros que foi comprado pelo Rentistas foi o jogador Lucas. Correto?
O SR. JUAN FIGER – Exatamente.
O SR. GERALDO ALTHOFF – E o senhor foi responsável por essa transação?
O SR. JUAN FIGER – Sim, eu fui o responsável. Essa transação se originou aproximadamente há dois anos, dois anos e meio antes, quando o Atlético Paranaense comprou, do Botafogo de Ribeirão Preto três jogadores chamados Lucas, Gustavo e Cocito. Como o Atlético Paranaense não tinha nenhum tipo de condição financeira para efetuar esse negócio, fiz uma copropriedade: vendi os 50% dos direitos financeiros dos três atletas ao Rentistas. No caso específico de Lucas, que havia, na época, comprado por R$ 600 mil, vendeu os 50% por o equivalente a R$ 500 mil. (…)
O SR. GERALDO ALTHOFF – Quantas partidas o jogador Lucas fez pelo Rentistas?
O SR. JUAN FIGER – O jogador ficou jogando no Atlético Paranaense. O Rentistas comprou 50% dos direitos financeiros do jogador Lucas.
O SR. GERALDO ALTHOFF – Por quantos mil dólares?
O SR. JUAN FIGER – Ele era equivalente a R$ 500 mil na época. Acho que devia dar cerca de…
O SR. PRESIDENTE (Álvaro Dias) – Na época estava próximo o dólar do real.
O SR. JUAN FIGER – Era perto de 400 mil dólares. (…)
O SR. GERALDO ALTHOFF – (…) Por quanto foi vendido, depois, o Lucas para a Europa? Quantos milhões de dólares?
O SR. JUAN FIGER – Bem, eu não participei da venda de Lucas para a Europa. Eu participei, sim, no interesse que tinha o Rentistas e o Atlético Paranaense de formalizar uma negociação. A negociação foi feita por 15 milhões de dólares, mais uma série de encargos e despesas que tem qualquer tipo de negociação, como o percentual que recebe o jogador – recebe 15% como comissão."
Esse caso representa o primeiro tipo de funcionamento. Já o depoimento abaixo, que diz respeito sobre a transferência do jogador Zé Roberto, da Portuguesa para o Central Español e do Central Español para o Real Madrid, no mesmo dia, representa o segundo tipo:
"O SR. PRESIDENTE (Álvaro Dias) – (…) Primeiramente, gostaria de saber se foi o senhor o empresário na venda do jogador Zé Roberto, que pertencia à Portuguesa e hoje joga na Alemanha.
O SR. JUAN FIGER – Perfeitamente. Eu fui empresário e vou comentar exatamente essa transação. A Associação Portuguesa de Desportos estabeleceu um preço, para Zé Roberto, que queria atingir. Eu, como procurador do jogador, também queria que Zé Roberto participasse dos times que ofereceriam melhor condição financeira para ele, e desportiva, naturalmente. E Real Madrid e Central Español fizeram uma parceria, uma copropriedade, e compraram Zé Roberto da Portuguesa, pagando…
O SR. PRESIDENTE (Álvaro Dias) – Sr. Juan Figer, a informação que nós temos é um pouco diferente. A informação que temos é que o Zé Roberto foi adquirido pelos Rentistas por US$ 6 milhões, aproximadamente, seis milhões e alguma coisa.
O SR. GERALDO ALTHOFF – Foi pelo Central Español.
O SR. PRESIDENTE (Álvaro Dias) – Central Español.
O SR. GERALDO ALTHOFF – US$ 4,6 milhões.
O SR. PRESIDENTE (Álvaro Dias) – E, no mesmo dia, ele foi vendido pelo Central Español para o Real Madrid, por nove milhões e…
O SR. GERALDO ALTHOFF – US$ 9,980 milhões.
O SR. JUAN FIGER – Eu vou explicar.
O SR. PRESIDENTE (Álvaro Dias) – Portanto, não houve uma parceria; houve uma intermediação.
O SR. GERALDO ALTHOFF – E o senhor teria recebido, à época, US$ 2 milhões pela transação.
O SR. JUAN FIGER – Não. Eu vou comentar como foi esse negócio e quais são os números. Houve uma parceria entre Real Madrid e Central Español: Central Español pagou à Portuguesa US$ 4,6 milhões, e Real Madrid pagou à Portuguesa US$ 1,5 milhão. Ambas as cifras totalizaram US$ 6,1 milhões. Posteriormente, essa venda ficou como um contrato de risco, e a quantidade exata que o Real Madrid pagou até hoje ao Central Español – porque o contrato de risco estabelecia a permanência do jogador, durante cinco temporadas, no Real Madrid, e ele permaneceu unicamente seis meses – foi US$ 5,5 milhões ou US$ 5,6 milhões. Essa foi a importância total que pagou o Real Madrid.
O SR. PRESIDENTE (Álvaro Dias) – O que se noticiou é que a venda do Central Español para o Real Madrid, que ocorreu no mesmo dia da aquisição junto à Portuguesa, teria sido de mais de US$ 9 milhões. Então, o senhor está dizendo que isso não é verdade?
O SR. JUAN FIGER – Não. A venda efetiva do jogador, como era um contrato de risco, e o que realmente Real Madrid pagou, à parte do US$ 1,5 milhão que pagou à Portuguesa, foi de US$ 5,5 milhões e US$ 5,6 milhões."
Esse fato gerou muita polêmica e acabou acarretando com a renúncia do então presidente da Portuguesa, Manoel Gonçalves Pacheco. Esses dois casos representam exatamente os dois modos de funcionamento do chamado pela CPI de Esquema Central Español/Rentistas.
Seleção Brasileira
Quando os treinadores Carlos Alberto Silva, Carlos Alberto Parreira e Vanderlei Luxemburgo estavam no comando do Brasil, houve uma suspeita de que estes técnicos estavam convocando jogadores de Figer apenas para valorizá-los. Podemos citar, como mero exemplo, o caso do jogador Mílton, que em 1988 foi convocado por Silva. O atleta, que pertencia ao Coritiba, após a convocação foi vendido ao Como, da Itália. Porém, não há nada provado contra Figer nesta acusação.
Passaportes Europeus Falsos
Alguns jogadores de Figer foram extraditados com passaporte comunitário falso na Europa, e geralmente sequer sabiam responder a respeito do passaporte. No caso do jogador Edu, que na época foi transferido por Figer para o Arsenal FC, o jogador admitiu que seu empresário conseguiu seu passaporte diretamente de Portugal, apesar da embaixada portuguesa no Brasil ter declarado que o jogador não poderia ter conseguido o passaporte senão no Consulado Português de São Paulo. Ao desembarcar na Inglaterra, Edu foi extraditado por suspeitas de passaporte falso. Em um encontro entre parlamentares brasileiros e Hermínio Menéndez, representante de Figer na Europa, este garantiu, na época, que Figer nada tem a ver com o ocorrido. O mesmo aconteceu com Warley ao chegar à Itália. Porém, Figer disse na CPI que Warley teria obtido o passaporte falso diretamente da Udinese. Neste caso também, não houve nenhuma sentença judicial contrária a Juan Figer.
Hoje
Após todas as suspeitas e investigações, nada aconteceu com Figer. Ele e seu filho Marcel continuam operando normalmente no mercado do futebol. Sua empresa de representação de atletas está registrada como MJF Publicidade e Promoções.
Fonte: Wikipédia
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F.C. Porto: Walter e Hulk partilham passagem fantasma pelo Rentistas
Walter parece-se cada vez mais com Hulk. Pelo jeito, pela capacidade de explosão, pela potência do remate. Mas não só. Nesta quarta-feira, soube-se que os dois jogadores partilham uma passagem fantasma por um clube do Uruguai: o Club Atlético Rentistas.
O Internacional de Porto Alegre vendera metade do passe de Walter ao empresário Juan Figger, a troco de 3,7 milhões de euros. O agente FIFA já tinha a outra metade. Após longas negociações, o F.C. Porto adquiriu 75 por cento do passe por seis milhões. Sobretudo, para ter controlo maioritário sobre o jogador.
OFICIAL: Walter assinou com o F.C. Porto por cinco anos
Segundo o comunicado enviado à CMVM, Walter foi adquirido ao Rentistas. Tal como aconteceu com Hulk em 2008. O reforço do F.C. Porto nunca jogou pelo emblema do Uruguai. Para perceber melhor a história, aqui fica o que o Maisfutebol escreveu há dois anos, a propósito do negócio que levou Hulk para o Dragão.
Japão ou Uruguai?
Ao contrário do que se supunha, Hulk não foi comprado pelo F.C. Porto directamente ao Tokyo Verdy. Segundo os azuis e brancos revelaram em comunicado à CMVM, a negociação de 50 por cento do passe do jogador foi feita com o Club Atlético Rentistas, um emblema da cidade de Montevideu, no Uruguai, que disputa a segunda divisão.
O Rentistas é, de resto, um clube pequeno do país, que serve sobretudo como interposto de jogadores. A negociação de Hulk não é a primeira que faz com o mercado português. Ainda na última época, por exemplo, o Sporting adquiriu Tiuí a esse emblema.
Antes destes, no final dos anos 80, o Sporting já tinha adquirido também através do clube Rentistas os jogadores Paulo Silva e Rodríguez. As transferências foram intermediadas por Juan Figger, como acontece com todos os jogadores que saem do pequeno clube uruguaio para a Europa. A maior parte deles nunca chegam a jogar no Rentistas.
Juan Figer, um uruguaio radicado no Brasil e que é o empresário FIFA mais antigo do país, já foi alvo de uma investigação do Senado do Brasil devido à suspeita de actividades ilegais através do Rentistas e do Central Espanhol (outro clube do Uruguai que também é um ponto de passagem de futebolistas), devido ao modo como negociava jogadores.
Nessa ocasião, o empresário foi obrigado a responder perante as acusações da Comissão Parlamentar de Inquérito. Segundo o relatório, «jogadores brasileiros são adquiridos pelos clubes uruguaios (com a intermediação do Sr. Figer no negócio) e imediatamente revendidos a clubes europeus por valores que chegam ao dobro do montante da compra».
Juan Figer sempre negou qualquer participação no Rentistas, referindo só intermediar negociações que envolvem o clube. Um dos casos investigados foi Lucas, que teve metade do passe comprado ao At. Pararanense por 400 mil dólares e posteriormente vendido para a Europa por 15 milhões, sendo que metade foi para o clube brasileiro.
O jogador nunca chegou a jogar pelo Rentistas. Nos registos de Hulk não consta também qualquer passagem pelo Rentistas, mas o F.C. Porto esclarece no comunicado que comprou 50 por cento dos direitos económicos e os direitos desportivos ao clube. O que significa que o Rentistas adquiriu primeiro os direitos desportivos ao Tokyo Verdy.
Mais Futebol - 29/07/2010
Partilha de passes de jogadores
Vender passes a investidores é tolerado pela FIFA mas proibido em Inglaterra
A partilha dos direitos económicos com investidores externos é prática comum na Argentina, Uruguai, Brasil e outros países sul-americanos. A maior parte dos clubes nestes países tem grandes limitações financeiras (muitos estão mesmo em situação de insolvência) e vê-se obrigada a recorrer com frequência a esta cedência total ou parcial dos passes dos jogadores. O fenómeno está agora a generalizar-se também entre os maiores clubes de Portugal. Na Europa, aliás, esta venda a terceiros tende a ser um fenómeno mais corrente nos países do Sul do continente. Na Inglaterra, por exemplo, este tipo de negócio começou por ser tolerado em determinadas condições, mas passou a estar totalmente proibido a partir de 2008.
A controvérsia desencadeada pelo chamado "Tévezgate" - a contratação de Tévez e Mascherano pelo West Ham, em Agosto de 2006 - levou a uma alteração radical do regulamento da Premier League relativamente a esta matéria. Os direitos económicos de Tévez eram detidos pelas empresas MSI e Just Sports Inc., enquanto o passe de Mascherano era repartido pela Mystere Services Ltd. e pela Global Soccer Agencies - quatro empresas de um universo misterioso controlado ou representado por Kia Joorabchian. O West Ham começou por esconder a existência destes "acordos de associação económica". O antigo artigo U18 do regulamento da liga inglesa não permitia que "entidades terceiras" pudessem ter qualquer "influência material sobre a política ou a actuação dos clubes". Nos termos do acordo assinado entre West Ham e Kia Joorabchian, o clube inglês não poderia opor-se a uma eventual decisão de venda dos jogadores argentinos (o West Ham também não teria qualquer palavra a dizer quanto ao preço de uma eventual transferência de Tévez ou Mascherano). A liga inglesa considerou que as empresas de Joorabchian detinham, desta forma, uma "influência material" (e ilegal) no poder decisório do clube. O West Ham conseguiu evitar as sanções desportivas (dedução de pontos, descida de divisão), mas foi condenado ao pagamento de uma multa recorde de 5,5 milhões de libras. O West Ham aguentou-se na divisão principal, mas não evitou ser processado pelo despromovido Sheffield United. Em Março de 2009, o clube de Londres aceitou pagar uma indemnização de 20 milhões de libras ao Sheffield.
A direcção da Premier League não gostou da confusão provocada pela intromissão destes investidores sem rosto que geralmente se escondem debaixo do manto protector e confidencial de empresas registadas em paraísos fiscais. Apesar dos esforços de Joorabchian e Zahavi, que tentaram convencer os britânicos sobre as virtudes do chamado "modelo sul-americano" (partilha do risco entre clube e investidores, provisão de talento futebolístico a clubes com limitações financeiras), a liga inglesa aprovou dois novos artigos (L34 e L35) do regulamento que passaram a proibir qualquer tipo de acordos de associação económica com terceiros a partir da época de 2008/09. A Premier League justificou a decisão com a "necessidade de protecção da integridade da prova e manutenção da confiança do público". Vários dirigentes da liga e da federação inglesa classificaram estas parcerias como "repugnantes" ou "pouco edificantes". "Estes negócios envolvem seres humanos e será muito desestabilizador ter 'outsiders' com interesses financeiros em determinados jogadores", comentou Gordon Taylor, presidente do sindicato de jogadores profissionais da Inglaterra e País de Gales.
Acordo Benfica/Jazzy em questão
Em 2008, a FIFA introduziu um artigo (18º bis) sobre esta matéria - intitulado "Influência de terceiros sobre os clubes" - no Regulamento sobre o Estatuto e a Transferência de Jogadores: "Nenhum clube pode celebrar um contrato que permita a uma das partes ou a um terceiro adquirir a capacidade de influenciar a independência, a política ou o desempenho das suas equipas em matéria de trabalho ou de transferências." O novo articulado da federação internacional não vai tão longe quanto as normas inglesas. Ao contrário da Premier League, a FIFA não proíbe a alienação a terceiros de parte ou da totalidade do passe de jogadores - apenas restringe a influência que esses terceiros possam ter nos clubes. A parceria entre Benfica e Jazzy Limited (de Joorabchian e Zahavi) relativamente ao internacional brasileiro Ramires, por exemplo, poderia ser considerada irregular nos termos do Regulamento da FIFA já que o presidente Luís Filipe Vieira admitiu - em entrevista à Benfica TV, no dia 2 de Agosto - que a permanência do jogador "não depende exclusivamente do Benfica". "Temos um parceiro, somos credíveis e temos de respeitar os contratos", afirmou Vieira. Poderá concluir-se que a sociedade Jazzy Limited detinha, desta forma, uma "posição de influência" relativamente à independência e política de transferências do Benfica - uma circunstância que a FIFA quer banir do futebol.
"Acordos desviam dinheiro para fora do futebol"
David Dein, ex-CEO do Arsenal, antigo vice-presidente da federação inglesa e actual director da comissão de candidatura da Inglaterra ao Mundial 2018, é um dos mais ferozes opositores destes acordos de associação económica: "O facto de terceiros deterem parte ou a totalidade dos passes de jogadores desvia dinheiro para fora do futebol. Quando um clube compra um jogador de outro clube, o dinheiro permanece no sistema e circula dentro do futebol. Quando o passe é detido por terceiros, a venda de um jogador beneficia apenas indivíduos ou empresas. E quando o dinheiro é desviado para fora do futebol, os clubes ficam mais limitados em termos de evolução e de capacidade de investimento em jogadores, infra-estruturas e estádio. Além disso, esta prática reduz vários jogadores - sobretudo em África e na América do Sul - a uma posição de quase escravidão. E também origina problemas ao nível da integridade da competição, já que seria possível que em determinado encontro jogadores das duas equipas adversárias fossem detidos pela mesma entidade terceira."
O artigo 18º bis ("Influência de terceiros sobre os clubes") do Regulamento FIFA:
"1. Nenhum clube pode celebrar um contrato que permita a uma das partes ou a um terceiro adquirir a capacidade de influenciar a independência, a política ou o desempenho das suas equipas em matéria de trabalho ou de transferências.
2. A Comissão de Disciplina da FIFA pode impor sanções aos clubes que não respeitarem as obrigações estipuladas neste artigo."
Por Paulo Anunciação - O Jogo - 20/11/2010
Jorge Mendes e a Gestifute
Segundo reza a história, Jorge Mendes foi um fracasso como jogador. Tinha na altura vinte e poucos anos, a não restou opção senão terminar a carreira e abrir alguns bares e nightclubs, juntamente com uma loja de aluguer de vídeos. E terá sido mesmo num bar em Guimarães que Mendes conheceu Nuno, jogador do qual se tornou agente em 1996, intermediando de seguida a sua transferência do Vitória para o Deportivo da Corunha. (in Wikipedia)
Depois, foi atraindo mais jogadores, como Jorge Andrade e Hugo Viana, tendo este último se transformado no seu primeiro real grande negócio internacional (12 milhões libras, do Sporting para o Newcastle).
Costinha, do Nacional (na altura na 2ª Divisão B) até ao Mónaco, foi uma longa e dura prova de resistência pois não vingou nem à experiência em Madrid.
Mas aquela que é a apoteótica história de Mendes começa com Mourinho, no Verão quente de 2004. Conseguiu suplantar Jorge Baidek (que já o conhecia desde o União de Leiria), orientando a carreira do "special one" para Standord Bridge em vez de Anfield Road como Baidek anunciava.
Também José Veiga ficou pelo caminho no célebre episódio do aeroporto.
E agenciar Mourinho foi o início do que sabemos, e vemos.
O talento de Mou na gestão de equipas fez com que Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Tiago, Morais (400 mil €, ao Penafiel) e Maniche, jogadores sempre questionáveis, o acompanhassem para Londres em negócios que valeram muito dinheiro a Mendes, custaram ao Chelsea, e que certamente poucos estariam à espera de assistir, quanto mais com os valores envolvidos.
O FC Porto, nesse ano, também não deixou de "ajudar" Mendes, com Luis Fabiano e Thiago Silva a conhecerem a porta de entrada para a Europa, jogadores à altura nas mãos de vários interessados.
Com a importância que o empresário foi adquirindo, não foi de todo estranho o acesso privilegiado que o mesmo adquiriu para estar no hotel da selecção portuguesa no europeu de 2008, à época orientada por Scolari.
Entretando, seguiram-se Pepe para o Real Madrid, Simão para o Atlético, Anderson e Nani para o Man Utd (tendo o último deixando a sua anterior agente Ana Almeida pelo caminho), com Carlos Queiróz a ser determinante nesse "raid".
Apesar das cada vez maiores conexões externas, seja com Pini Zahavi ou com a Creative Artists Agency, os grandes negócios proliferam dentro da "carteira" de agenciados. Eis aquelas que foram as mais célebres transferências que Mendes intermediou, contabilizando apenas de 2004 até agora:
Em 2004
- Ricardo Carvalho, do FC Porto para o Chelsea, por 30 milhões
- Paulo Ferreira, do FC Porto para o Chelsea, por 20 milhões
- Tiago, do Benfica para o Chelsea, por 12 milhões
- Deco, do FC Porto para o Barcelona por 21 milhões menos Quaresma (6 milhões)
Em 2005
- Tiago, do Chelsea para o Lyon, avaliado em 10 milhões
- Seitaridis, do FC Porto para o Dynamo Moscovo por 10 milhões
- Costinha, do FC Porto para o Dynamo Moscovo por 4 milhões
- Nuno, do FC Porto para o Dynamo Moscovo por 2.5 milhões
- Derlei, do FC Porto para o Dynamo Moscovo por 7.5 milhões
Em 2006
- Hugo Viana, do Newcastle para o Valencia por 2.3 milhões
- Nunes, do Braga para o Mallorca por 2.5 milhões
- Seitaridis, do Dynamo Moscovo para o Atl Madrid por 6 milhões.
- Costinha, do Dynamo Moscovo para o Atl Madrid por 6 milhões
Em 2007
- Pepe, do FC Porto para o Real Madrid, por 30 milhões
- Anderson, do FC Porto para o Man Utd, por 31.5 milhões
- Nani, do Sporting para o Man Utd por 25.5 milhões
- Simão, do Benfica para o Atlético Madrid por 20 milhões
- Manuel Fernandes, do Benfica para o Valencia, por 15 milhões
- Tiago, do Lyon para a Juventus, por 15 milhões
- Hugo Almeida, do FC Porto para o Werder Bremen em definitivo por 4 milhões
- Diego Costa, do Braga para o Atl Madrid por 3.5 milhões
- Pele, do Vitoria para o Inter por 2 milhões
- Jorge Andrade, do Corunha para a Juventus por 13 milhões
- Ricardo Rocha, do Benfica para o Tottenham por 5 milhões
Em 2008
- Scolari, para o Chelsea que rondou os 7 milhões de euros.
- Danny, do Dynamo de Moscovo para o Zenit, por 30 milhões
- Quaresma, do FC Porto para o Inter, por 27.8 milhões menos 6 milhões do Pele
- Geromel, do Vitoria para o Colónia, por 2.5 milhões
- Giovani dos Santos, do Barcelona para o Tottenham por 8 milhões
- Deco, do Barcelona para o Chelsea por 10 milhões
Em 2009:
- Ronaldo para o Real Madrid pela exorbitância dos 94 milhões que sabemos.
- Thiago Silva, do Fluminense para o Milan por 10 milhões
- Ibson, do FC Porto para o Spartak Moscovo por 4 milhões
Mas, 2010, ano de grande crise e de tremenda quebra no volume e montantes dos negócios de transferências, tem-se revelado o oposto e de uma forma absolutamente inacreditável.
- Começou com Mourinho, a sair para o Real por cerca de 14 milhões.
- Logo de seguida, o mesmo amigo Mourinho vai apressadamente buscar Di Maria por 25 milhões.
- Quaresma, do Inter para o Besiktas por 7.3 milhões
- Rafael Marquez desvincula-se do Barcelona, e assina pelo New York Red Bulls, num negócio sem valores mas alegadamente com um contrato fabuloso para o mexicano.
- Miguel Veloso vai para o Génova, num negócio que custou aos italianos 9 milhões
- Diego Souza, passe cedido ao Atlético Mineiro por 3 milhões
Se a conta já ia elevada (60 milhões milhões, à percentagem que só eles sabem), então recomeça a loucura:
- Bruno Alves, 22 milhões, aos 29 anos, para os russos do Zenit. Todos se perguntam se haveria assim tanta gente a chamar por Bruno...?
- Ramires, 22 milhões, para o Chelsea, como intermediário. Este é o tal negócio que meteu Pini Zahavi, Kia Joorabchian, uma coisa difícil de perceber ao certo, e a impossibilidade de em Inglaterra haverem jogadores com passe detido por mais do que uma entidade. Algo que explica muita coisa para além disto (Tevez, Robinho,......) mas isso é uma outra história.
- Ricardo Carvalho, do Chelsea para o Real, por mais 8 milhões.
- Bebé, numa manobra ultra-rápida de mudança de agente, do Vitória para o Man Utd.
E ainda constam no cardápio...
- Carlos Vela, Fábio Coentrão, Daniel Carriço, Duda, Sidnei, Rodrigo Tello, Postiga, Nuno Assis, César Peixoto, Petit, Abel, João Paulo, João Alves, Edinho, Bruno Gama, Ukra, Pizzi, Fábio Faria, Rabiola,.... entre outros de idade mais avançada e menos mediáticos, e um acréscimo semanal de novos jogadores.
O ano de crise está quase a apanhar o ano de ouro (2007).
Jorge Mendes está cada vez mais em jogo, uma parte do jogo, e cada vez mais próximo do estilo do super-agente que foi Zahavi, mas com muito menos polémica à mistura. Já só falta começar a entrar no negócio das compras dos clubes, agora que se aproximou tanto dos russos, de Kia, e das suas influências. Honestamente, já não vejo porque não o possa fazer, dado o poderio financeiro que alcançou, e a lógica de integração que isso daria aos seus negócios.
Infelizmente, Portugal não tem clubes à venda que pudessem ser uma boa alavanca dos seus interesses. Mas, quem sabe?
A grande vantagem é que esta "malha" de conhecimentos e networking tem por base um enorme trabalho na procura e captação de talentos.
Numa competência que não lhe pode ser questionada, a estratégia passa pelo acompanhamento muito próximo de escolas de futebol e equipas jovens. Mas, é no estar junto dos intervenientes certos, e ser tremendamente influente junto deles, que se suporta a verdadeira máquina de fazer dinheiro que é a Gestifute.
Cada um pode tirar as ilações que quiser, e podem ser bastantes e de todo o género. Sejam quais forem, no final é a competitividade do futebol português quem mais vai agradecendo.
E Porto, Benfica, e agora também Sporting, estão livres para trabalhar com o empresário sem constrangimentos.
Fonte: Futebol "O desporto rei" - 2/09/2010
Olivedesportos, Ligações Obscuras
Olivedesportos compra agência Cosmos
A OLIVEDESPORTOS de Joaquim Oliveira tornou-se a única proprietária da agência de viagens Cosmos. A Cosmos, recorde-se, é a agência oficial da Federação Portuguesa de Futebol e do FC Porto e ficou particularmente conhecida após o seu envolvimento no caso das férias pagas ao árbitro Carlos Calheiros.
«A honorabilidade de uma agência tem de ter correspondência na confiança dos clientes e esta ter-se-á perdido», adianta o ex-administrador António Laranjeira, acrescentando que a sua saída se deveu a incompatibilidades com Joaquim Oliveira.
A OLIVEDESPORTOS comprou as 20 mil acções da agência de viagens Cosmos que pertenciam a António Laranjeira, presidente do conselho de administração da empresa. Essas acções correspondem a metade do capital social da Cosmos. Joaquim Oliveira, patrão da Olivesdesportos, possuía já os outros 50 por cento das acções, sendo hoje, portanto, o verdadeiro dono de uma agência que teve alguns momentos conturbados, nomeadamente em 1997, onze anos depois da sua constituição.
«Deixei a Cosmos, que eu próprio criei, por incompatibilidade com o meu sócio, devido a termos vindo de sítios diferentes, termos práticas de vida diferentes e objectivos diferentes», explica António Laranjeira, sem especificar o alcance dessas referidas diferenças.
«Tudo isso somado - continua - torna irreconciliável qualquer gestão».
Joaquim Oliveira entrou para a empresa nos primeiros anos da década de 90. Segundo o ex-presidente da Cosmos, as divergências datam praticamente do início da relação comercial que entre ambos se estabeleceu.
«O principal capital de uma agência de viagens, que vende um produto não tangível, é a sua credibilidade», refere António Laranjeira.
Segundo ele, os ataques movidos principalmente em 1997 contra a Olivedesportos «por alguma comunicação social» tiveram um efeito negativo na facturação da agência. «Num ano em que todos os agentes subiram as suas vendas, a Cosmos facturou menos cem mil contos do que no ano anterior. Isto está escrito no Relatório de Contas», salienta.
Laranjeira recusa-se a classificar como «justas ou injustas» as referidas «guerras» à Olivedesportos, mas não hesita em afirmar: «Tiveram um reflexo negativo na Cosmos, isso é inegável».
A agência - que tinha na sua administração Adelino Caldeira (considerado próximo de Joaquim Oliveira) e da qual já desde há algum tempo o filho do patrão da Olivedesportos, Rolando Oliveira, é presidente do Conselho Fiscal - mantém em carteira os contratos com a Federação Portuguesa de Futebol e o FC Porto. É ainda responsável pela deslocação das equipas do continente às regiões autónomas.
A ligação mais directa da Cosmos ao mundo do futebol provocou as mais diferentes controvérsias, tendo sido mesmo acusada por alguns jornais, em tempos, de ter sido favorecida no contrato com a Federação.
Esse facto deu origem a um processo em tribunal, no ano passado (1997), tendo sido condenado o director do jornal «Record», que, entretanto, recorreu para o Supremo.
Mas 1997 ficou como um ano negro para a Cosmos. Não apenas os resultados líquidos não subiram - como apontavam as previsões das empresas de consultadoria comercial que falavam de um aumento de 1,45 milhões de contos, estimados em 96, para 1,5 em 97 - como, segundo António Laranjeira, a facturação foi substancialmente inferior em relação ao ano anterior.
A revelação do caso do árbitro Francisco Calheiros, trazida a lume pela SIC e envolvendo o nome da Cosmos, contribuiu para que a imagem da empresa fosse beliscada nesse ano.
«A honorabilidade de uma agência tem de ter correspondência na confiança dos clientes». Esta, segundo o ex-administrador, ter-se-á perdido.
Joaquim Oliveira, que já detém todos os direitos da publicidade estática na esmagadora maioria dos estádios portugueses e o negócio do futebol na televisão, além da propriedade do jornal «O Jogo», fica agora também com a agência de viagens que mais ligações tem com o mundo do futebol.
Por Jorge Massada, no Expresso, 1-08-1998
Infelizmente e como se sabe este tipo de notícias tem tido pouca projecção no nosso país, invariavelmente passam completamente despercebidas, na grande maioria da nossa comunicação social.
Que a agência Cosmos pouca ou nenhuma credibilidade tem todos nós sabemos, estando inclusive intimamente ligada ao "Caso Calheiros" e as viagens pagas mas que depois não foram pagas pelo F.C.Porto.
Se atendermos ao ano desta notícia deparamos com alguns nomes bem conhecidos do nosso futebol, Joaquim Oliveira todos nós sabemos quem é, e todo o mal que tem feito ao futebol Português e em particular ao Sport Lisboa e Benfica. Já outra personagem que aparece mencionada na notícia, pessoa essa que actualmente é um dos dirigentes do F.C.Porto, nem mais nem menos do que Adelino Caldeira.
Adelino Caldeira era uma dos directores à época da bem conhecida agência de viagens "Cosmos" (a mesma que enviou por engano as facturas de Carlos Calheiros por engano para a torre das Antas), actualmente aparece ligado como directo ao F.C.Porto tendo sido inclusive uma das mais importantes testemunhas de defesa de Pinto da Costa no processo apito Dourado.
Adelino Caldeira aparece sempre em momentos chave da corrupção no desporto nacional e em particular no F.C.Porto, Em 1996 quando estoira o caso "Calheiros" onde era director da agência Cosmos e agora no "Apito Dourado"
As ligações Olivedesportos, Pinto da Costa e F.C.Porto são mais que muitas e nunca foram omitidas, é clara a existência de um favorecimento de Joaquim Oliveira ao F.C. Porto, pode ver-se nos contratos existentes entre Sport TV "Cosmos" etc, e a forma como conseguiram limpar o caso "Calheiros".
Como é sabido o Sport Lisboa e Benfica estará livre para negociar os direitos televisivos dentro de 2 anos, e como se sabe o anterior contrato com a Olivedesportos foi claramente ruinoso e prejudicial para o Benfica.
Defendo por tudo isto que o Benfica em momento algum poderá renovar a sua ligação à Olivedesportos, pois com as receitas que a OlivedesportoSport Lisboa irá directamente ajudar o F.C. Porto financeiramente e uma politica de notícias absolutamente descriminatória e avensada sempre a favorecer os mesmos.
Deste forma e penso que não é novidade para ninguém o Sport Lisboa e Benfica estará ao renovar o contrato com a Olivedesportos a ajudar "Indirectamente" a financiar o F.C. Porto.
Outro caso bastante curioso são as ligações da F.P.F. à Olivedesportos, a Oliveira e à Cosmos.
Como se leu na notícia, a "Cosmos" detém o contrato de viagens com a Federação entre outras contratos, à altura da assinatura do contrato Olivedesportos/Cosmos Aparece-nos mais uma vez Adelino Caldeira, actual director do F.C.Porto.
As ligações Olivedesportos/F.C.Porto/F.P.F. são mais que muitas e os anos 90 em particular são prova disso, anos em que o Porto construiu a sua hegemonia no futebol Português.
Há tantos casos que são prova disso, mas apenas para citar alguns:
A forma como foi tratado o caso apito Dourado e a tão bem conhecida forma como a F.P.F mentiu à Uefa sobre este caso apito Dourado e mentiu ao TAS em claro beneficio do Porto para não ser corrido da Champions, ou ainda mais recentemente o julgamento do caso Hulk e a suspensão de 4 meses dada pelo conselho de Justiça da Liga e que foi diminuído para apenas 3 jogos pela Federação.
Casos e casos de ligações obscuras são mais que muitos, nem necessário é pensar muito, basta lembrar-mo-nos e casos e casos do estado calamitoso e de mentira que vive o futebol Português são mais que muitos.
Publicado por kapotes no Blog "Avante P'lo Benfica"
Kia Joorabchian e o Corinthians
No final de 2004, um obscuro executivo iraniano radicado em Londres se transformou no grande ídolo da segunda maior torcida do país. O dinheiro que Kia Joorabchian despejou no Corinthians rendeu um time de estrelas e um título importante. Os corintianos se acostumaram a gritar seu nome nas arquibancadas, consagrando o cartola falastrão, gastador e enrolado. Três anos depois, porém, Kia passava de herói a vilão do Corinthians. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público revelaram que os negócios da MSI são irregulares. Quais são as conseqüências do caso?
Qual era o objetivo declarado da parceria entre Corinthians e MSI?
O acordo, costurado em agosto de 2004 e oficializado em novembro daquele mesmo ano, previa um período de investimento de dez anos pela Media Sports Investments, a MSI. O empresário Kia seria o representante do fundo de investidores no país, responsável por gerenciar os recursos externos e fechar negócios em nome do Corinthians. Kia era o único rosto conhecido da parceria -- os investidores estrangeiros responsáveis pelos investimentos permaneciam desconhecidos, assim como a origem do grande fluxo de dólares que chegava desde Londres, sede da MSI. Em troca da compra de jogadores (e de promessas como a construção de um estádio e a criação de um canal de TV por assinatura do clube), a MSI poderia explorar o departamento de futebol corintiano, negociando contratos publicitários e recebendo os lucros de vendas de atletas. Os responsáveis pelos investimentos receberiam parte da receita e se comprometiam a continuar gastando dinheiro com contratações, mantendo sempre um "supertime".
Quais foram os resultados do negócio entre clube e fundo estrangeiro?
Kia gastou cerca de 115 milhões de reais em contratações no primeiro ano de parceria. Trouxe jogadores famosos e promissores, como os argentinos Tevez e Mascherano e os brasileiros Nilmar, Carlos Alberto e Roger, entre vários outros. Gastou até com um técnico estrangeiro e caríssimo: Daniel Passarella, demitido depois de perder por 5 a 1 para o São Paulo no Pacaembu e ser ameaçado por uma invasão de torcedores ao gramado. Apesar de fracassar no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil, o time foi campeão brasileiro em 2005, troféu marcado pelo escândalo da máfia do apito e por um erro crucial de arbitragem no jogo decisivo contra o Internacional, vice-campeão. Em 2006, a parceria começou a fazer água. As brigas internas e trapalhadas de Kia e da diretoria do Corinthians prejudicaram as campanhas da equipe, que não levantou a tão sonhada taça da Copa Libertadores e fracassou também nas outras competições do ano. Em 2007, foram novos fiascos: no Paulista, no Brasileiro e na Copa do Brasil.
O que aconteceu com a parceria depois dos fracassos no gramado?
Os rolos de Kia, as disputas políticas no clube e a natureza obscura dos investimentos ficaram em segundo plano enquanto houve bons resultados em campo - a partir de 2006, porém, a parceria tornou-se um enorme problema. Kia levou Tevez e Mascherano para a Europa e fechou a torneira de dólares. O clube passou a pressionar a MSI na esperança de contratar novas estrelas e pagar as dívidas, que não paravam de crescer. No começo de 2007, com o Corinthians abandonado pela empresa e por seu próprio presidente, que passava a maior parte do tempo em Londres, os conselheiros votaram pela dissolução da parceria. Na teoria, o elo entre Corinthians e MSI ainda existia. A relação entre as partes, contudo, se resumia às trocas de acusações e cobranças. A sede paulistana da MSI deixou de existir; sem receber, o quadro de funcionários ficou esvaziado. Dois anos depois de armar o time mais caro da história do futebol brasileiro, o Corinthians tentava se sustentar com um time cheio de novatos e desconhecidos.
Fora de campo, qual foi o desfecho da parceria entre empresa e clube?
Um dos maiores escândalos já ocorridos no esporte brasileiro. E o caso está longe de terminar: há a possibilidade real de que os principais envolvidos na parceria terminem presos. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público identificaram uma longa lista de crimes no clube. Há suspeitas de evasão de divisas e sonegação fiscal. Gravações telefônicas interceptadas com autorização judicial mostram Kia falando abertamente em lavagem de dinheiro. Um inquérito da PF também investigará dirigentes do clube e da MSI por formação de quadrilha. O trabalho da PF, chamado Operação Perestroika, mostrou que os crimes foram além das irregularidades denunciadas desde 2005 pelo Ministério Público Federal. Suspeita-se que a MSI pagava suas estrelas (como Tevez, Mascherano, Carlos Alberto, Nilmar e o técnico Emerson Leão) no exterior -- numa conversa gravada entre Carlos Alberto e a sua ex-mulher, a moça ameaça "abrir a boca sobre o depósito do salário, que é feito metade aqui e metade no exterior".
Quais são os principais personagens do escândalo e seus crimes?
Em julho de 2007, a Justiça Federal determinou pedido de prisão preventiva contra Kia Joorabchian e o magnata russo Boris Berezovski, o principal investidor da MSI. Nojan Bedroud, diretor da empresa, também foi alvo do mesmo pedido. São acusados de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. No Corinthians, foram denunciados vários dirigentes, incluindo o então presidente, Alberto Dualib, e seu vice, Nesi Curi. O empresário Renato Duprat, que intermediou o acordo para a parceria, o advogado Alexandre Verri, advogado com procuração da MSI, e o dirigente Paulo Angioni, ex-diretor da empresa, também foram citados no processo. O juiz da 6ª Vara Federal, Fausto Martin Sanctis, deu início ao processo criminal e marcou os depoimentos dos envolvidos para o segundo semestre. Se Kia e Berezovski entrarem no país, serão presos. Conforme os autores da denúncia, os procuradores Rodrigo de Grandis e Silvio Martins de Oliveira, a "quadrilha" corintiana movimentou cerca de 61 milhões de reais de origem ilícita.
O que dizem os acusados e suspeitos de envolvimento no escândalo?
Entre os alvos da denúncia formal, Kia e Berezovski não se pronunciam -- continuam em Londres, longe do furacão corintiano. Alberto Dualib nega envolvimento em crimes: "No telefone, 95% do que se fala não acontece, e isso não serve de prova", disse ele sobre os grampos da PF. Os jogadores que teriam recebido dinheiro fora do país não reconhecem a prática -- garantem que tudo foi feito dentro da lei. O técnico Leão, que ganhava 500.000 reais mensais, também nega ter recebido de forma ilegal. Jogadores e técnico seriam ouvidos pela PF dentro das investigações da Operação Perestroika. Enquanto a PF intensificava os trabalhos de apuração, Kia se casava com a advogada Tatiana, que trabalhava na MSI. Alberto Dualib e seu vice estavam afastados da presidência do clube. O retorno da dupla ao poder era considerado impossível. No lugar de Dualib assumiu o presidente interino Clodomil Orsi -- que também pode ser envolvido no caso, pois assinou notas frias falsas fornecidas por uma empresa de contabilidade.
Qual é o personagem decisivo para o desfecho de todo o episódio?
É o magnata russo Boris Berezovski, uma das figuras mais controvertidas do neocapitalismo pós-soviético. Homem de múltiplos talentos, Berezovski entrou para o mundo dos negócios com o colapso do comunismo e enriqueceu com as privatizações no regime de Boris Ieltsin. Com a ascensão de Vladimir Putin em 2000, Berezovski caiu em desgraça. Acusado de corrupção e ligação com a máfia russa, exilou-se na Inglaterra. A participação do russo no negócio com o Corinthians era suspeitada desde o início da parceria, mas sempre foi negada pelos dirigentes. A PF e o MP, contudo, foram claros: Berezovski era o dono do negócio, e Kia era apenas um "laranja". Provado esse envolvimento do russo, fica aberto o caminho para a punição dos crimes, já que estaria caracterizado o esquema de lavagem de dinheiro. Outro fato grave ligado ao russo é a revelação, nos grampos da PF, de toda a mobilização política para permitir que Berezovski visitasse o Brasil, fizesse mais negócios e até falasse com o presidente Lula.
Quem estava por trás das tentativas de trazer o russo até Brasília?
O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu, que teve três encontros com o enroladíssimo magnata, dono de uma fortuna avaliada em 10 bilhões de dólares. De acordo com um petista familiarizado com os negócios de Dirceu, o principal assunto entre o ex-deputado e Berezovski foi a Varig -- seu fundo de investimento teria 1 bilhão de reais que seria destinado à compra da empresa. O papel de Dirceu, ainda segundo esse petista, era convencer o governo brasileiro a colocar 100 milhões de reais na transação por meio do BNDES. Os três encontros de Dirceu com Berezovski ocorreram numa mansão no bairro do Pacaembu, em São Paulo, cedida por Renato Duprat. A idéia de José Dirceu, conforme comentou com um interlocutor, era arrancar uma comissão de uns 20 milhões de dólares intermediando o negócio da Varig e, com isso, pagar campanha eleitoral para o PT. Um dia depois de se reunir pela última vez com Dirceu, o magnata russo foi interrogado durante oito horas pelos 2 procuradores que investigam a MSI.
Quais serão as possíveis conseqüências do escândalo no futebol?
O Congresso Nacional decidiu acompanhar mais de perto os negócios envolvendo clubes e empresários. Depois de uma audiência pública sobre o caso Corinthians-MSI no mês de setembro, a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara decidiu investigar a fundo as transações do futebol, com apoio da Receita Federal. A intenção é descobrir novos casos de lavagem de dinheiro e corrupção no esporte. Alguns deputados se mobilizaram pela instalação de uma CPI sobre o tema, mas a extensa fila de comissões que esperam instalação na Câmara fez a idéia perder força. Na esfera internacional, o caso da MSI é uma das suspeitas que levaram a Fifa, entidade máxima do esporte, a criar uma comissão especial para refletir sobre o papel dos empresários no esporte. A preocupação se estende à Inglaterra, dona do campeonato nacional mais próspero e valorizado da Europa, onde os magnatas estrangeiros enrolados em seus países gastam milhões nos times, que têm ações negociadas na bolsa e podem ser comprados.
Setembro de 2007
Fonte: Veja - Abril
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